“Os anéis de divórcio estão em alta”, dizia a manchete da matéria no GLOBO de segunda-feira passada. Sendo 1º de abril, tudo era possível. Ainda mais estando o artigo na seção de Saúde — espaço mais afeito a dengue, insônia, cardiopatia e dor lombar.
Pensando bem, o tema tampouco teria a ver com Opinião, Cultura, Economia, Mundo, Política, Esporte… Então Saúde era o lugar que, por eliminação, lhe cabia. E não, não era pegadinha do Dia da Mentira: foi lançada mesmo a moda de, desfeito o casamento, derreter a aliança que simbolizava o amor eterno e refundi-la numa nova joia, simbolizando… simbolizando… bem, simbolizando que o “pra sempre” sempre acaba, que a fila anda, que ouro não tem estado civil e que quem tem que ser eterno é o diamante, não o marido.
As novas alianças não poderiam, claro, continuar se chamando alianças (afinal, aliança é um pacto, uma união). Eu lhes teria dado o nome de cizânias:
– Que linda essa cizânia, amiga! Não me diga que…
– Sim, eu e o Luis Felipe terminamos. E esta cizânia ficou bem mais bonita que aquela de quando eu e o Paulo Renato nos divorciamos. A do fim do relacionamento com o João Guilherme ainda é a minha favorita, mas o joalheiro fechou na pandemia, e não encontrei outro igual. Dizem que tem agora um ótimo na Marquês de São Vicente, muito caprichoso, e a próxima eu quero fazer com ele. Porque de mal-acabado, chega o casamento!
As cizânias – que, em respeito às pessoas sem imaginação, vão acabar sendo conhecidas como “anéis de divórcio” – podem ser a estartape de uma nova indústria. Com o número de casamentos decaindo — e aumentando o de divórcios –, por que não alugar salão, contratar bufê, mandar fazer um vestido (roxo) e convidar os amigos para comemorar a ruptura?
Isso dará emprego a cerimonialistas, decoradores, maquiadores, modistas, confeiteiros, fotógrafos, motoristas de limusine, quartetos de corda e celebrantes. E em dose dupla, porque, para cada festa de casamento, haverá duas de rompimento.
– Viu no blogue da Lu Lacerda a festa de divórcio da Lili Alcântara Albuquerque Salles Marinho Setúbal Gouvêa Aguiar Camargo de Moraes?
– Vi. Muito chique a pérgola do Copa decorada com crisântemos, calêndulas e tagetes erecta.
– Tagetes erecta?
– Cravo de defunto. Importado da Colômbia!
– Ela arrasou no bufê de bem-descasados.
– Eu gostei mais da festa do Rodrigo Otávio, no Iate. Tocou “Solteiro no Rio de Janeiro” a noite inteira. E que a mãe da Lili não nos ouça, mas os olhos de ex-sogra estavam divinos!
Padrinhos e madrinhas serão escolhidos entre os ex-amigos (agora amigos de novo) que avisaram, desde o início, que o aquilo não tinha como dar certo.
Poderá haver também chá de revelação. Usando vermelho se quem deu o pé na bunda foi ela. Verde, se foi ele. E amarelo se ainda estão em litígio a respeito de quem pediu pra sair primeiro.
As cizânias — ops, anéis de divórcio — não são para usar no anular, mas no dedo médio. O que prova que – digam o que disserem os ex-pombinhos – acabar o casamento é fácil. Com a mágoa, são outros quinhentos.