A primeira e mais antiga democracia do mundo moderno, os Estados Unidos, tem como base da sua Declaração de Independência (1776) o seguinte: “Nós sustentamos verdades evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador com direitos inalienáveis dentre os quais a Vida, a Liberdade e a busca da felicidade…”.
Note-se que a declaração não diz se vamos encontrá-la — diz apenas que temos o direito de procurar. Todavia, o quadro atual da humanidade mostra que está sendo muito difícil, ou sempre foi difícil, encontrá-la.
Como ser feliz, por exemplo, diante de fatos como o da notícia de que uma pessoa usou um idoso morto, numa cadeira de rodas, para ir ao banco cometer fraude e furto?
Certamente que esse fato — como tantos outros, que não param de acontecer todos os dias — atesta a miséria e a infelicidade humana.
Não é difícil constatar que nunca houve, como atualmente, pessoas mais ricas, mais inteligentes, com mais tempo de lazer, mais entretenimentos do que em qualquer período da História. Essa riqueza acontece em qualquer lugar do Planeta, mas as pessoas não estão felizes. Podem estar eufóricas ou brevemente alegres por ilusões consumistas, porém não estão felizes.
Ao mesmo tempo, um número crescente e incontável de pessoas está numa situação oposta, ou seja, cada vez mais pobres, com mais dificuldades cognitivas, sem nenhum lazer de qualidade, iludidas pela desinformação e pelas promessas políticas, e, obviamente, estão igualmente infelizes.
Observa-se também muitas pessoas tentando parecer felizes, exibindo uma fachada bem-sucedida pelo uso de artefatos tóxicos da moda, sejam físicos, sejam subjetivos.
O pior é que, diante disso, não sabemos onde está a vontade de resolver o problema. Não sabemos nem mesmo se as pessoas são capazes de alcançar o problema.
Também, dentro desse vértice, me intriga por que razão pessoas que vivem do ódio ao conhecimento — e são por isso miseravelmente infelizes, apesar de viverem como faraós — estão sendo eleitas para resolver os problemas da humanidade.
Algumas dessas pessoas exibem até bastante conhecimento, mas trabalham muito pouco, tiram muitas horas de almoço, têm à sua disposição muita mordomia, muito dinheiro para gastar, entretanto, o fato de ter muito conhecimento não significa que sejam capazes de pensar. Por essa razão, ao invés de resolverem problemas, causam mais problemas e conseguem irritar bastante com sua empáfia e arrogância extrema (seria isso uma consequência de apenas ter conhecimento?)
Então o que estaria faltando é capacidade para pensar?
A resposta é sim, mas não é nada simples o problema, nem certamente como resolvê-lo, pois, para pensar, não basta querer. É preciso aprender a pensar e, nesse processo, a paciência é quase tudo de que precisamos para lidar com o inesperado, o novo e o desconhecido. E a paciência é algo muito complexo para se adquirir.
Haveria algo para melhor ajudar um pouco essa situação?
Como psicanalista, posso recomendar Psicanálise, no entanto, posso também sugerir que psicanalistas não estão disponíveis para todos. Que se procure ler mais. Procurem os livros, as livrarias, pois, nesses espaços, encontramos o esforço de pessoas que pretendem transcender as mazelas da humanidade, e incontáveis escritores conseguiram fazer isso.
Posso, certamente, ser criticado pelo simplismo da proposta, mas não consigo negar que, pelo contato com a escrita, podemos ter momentos de verdadeira felicidade conectada a uma sabedoria.
Arnaldo Chuster é médico psiquiatra e psicanalista. Membro efetivo da Sociedade Psicanalítica do Rio e do Newport Psychoanalytical Institute, Irvine, Califórnia. Autor e coautor de 22 livros de psicanálise.