Recentemente, duas novas “buzzwords” (palavras populares ou chavões) aterrissaram no mundo corporativo: “quiet quitting” e “quiet ambition”.
“Quiet quitting” chegou primeiro e, mais recentemente, o “quiet ambition”; ambas as expressões têm a ver com a forma como a geração jovem, a Z, encara o trabalho e suas relações.
No chat GPT, “quiet quitting” é definido como “ato de deixar um emprego, projeto ou situação sem fazer muito barulho ou sem chamar a atenção, uma forma discreta de renunciar, em que a pessoa se retira da situação sem criar conflitos ou dramas”.
Por que então o “quiet quitting” tem causado tanto alvoroço?
Porque, contrariamente ao chat, a mídia tem falado nesse movimento como o comportamento de fazer o estritamente necessário dentro da descrição de cargo, e aqui já aparece embutida uma crítica, já que as longas jornadas e a sobrecarga foram por muito tempo — e são ainda — estimuladas e valorizadas como sinal de comprometimento.
“Quiet ambition” é o filho caçula. Termo surgido mais recentemente, que fala dos profissionais que estão rejeitando a tradicional escalada hierárquica e recusando posições de liderança em nome da saúde física e mental e do equilíbrio de vida.
Ainda que possam ser movimentos mais presentes nos Estados Unidos, são úteis para pensar o que os jovens estão querendo nos dizer sobre o mundo do trabalho que insistimos em lhes oferecer.
Quando pensamos que o Brasil ostenta índices preocupantes de burnout, e as empresas têm feito menos no sentido de atuar efetivamente para mudar os contextos de trabalho adoecedores, concentrando-se em ofertas que colocam o colaborador como o principal responsável por se manter saudável, a exemplo de plataformas de mindfulness e terapia, o “grito silencioso” da geração Z denuncia não a falta de ambição por uma carreira de sucesso, mas a ambição por uma vida mais equilibrada na qual a saúde não seja vendida ao diabo em troca de apenas encher o bolso e esvaziar a alma.
As gerações anteriores, forjadas sob outros valores, entendem os limites dos “Z” como acomodação e falta de engajamento.
Frases, como “eu já ralei muito” ou “quando jovem, fazia tudo, hoje ninguém quer fazer nada” são expressões doloridas de quem adotou a vida corrida e tensa como padrão, naturalizou as longas horas de trabalho, o almoço comido às pressas, as reuniões seguidas sem intervalos para respiro e a pressão constante por mais resultado.
Isso sem falar nas relações empobrecidas pela falta de diálogo, pelo fomento da competição entre pares e outras mazelas mais.
Quem recusa esse modo de viver é taxado de pouco ambicioso por aqueles que já incorporaram essas condições na rotina, ainda que, muitas vezes, sem se dar conta dos prejuízos decorrentes, até que os sintomas de esgotamento se façam sentir.
E no incômodo que surge no contraste de concepções, vivências e desejos tão diferentes, é fácil olhar os Zs como pouco ambiciosos, em um sentido pejorativo.
Mas precisamos ficar atentos. Como já foi dito, palavras criam mundos.
Será que chamar a denúncia dos jovens de ambição silenciosa não é desqualificar o pedido barulhento e urgente de que o mundo do trabalho seja repensado, oferecendo condições e relações pautadas pelo equilíbrio, diálogo, colaboração, de modo que o trabalho possa ser vivido não como fonte de sofrimento, mas, de criatividade, prazer e entusiasmo?
Jacqueline Resch é psicóloga, sócia-fundadora da Resch RH, integrante do Conselho Deliberativo da ABRH-RJ, membro do Comitê Curador do RH Rio e professora do MBA em RH do IAG/ PUC Rio.