A relação da Record com a obra do Graciliano Ramos está prestes a completar 50 anos. Sempre foi motivo de grande orgulho para nós acolher e zelar pelo legado de um dos grandes autores brasileiros de todos os tempos. Por isso, na última renovação de contrato com a família do autor, decidimos prorrogar o pagamento dos direitos autorais para além da entrada da obra em domínio público, em consideração à parceria iniciada em 1975.
Pensamos também, com a família Ramos, numa forma de fazer jus aos ideiais do Graciliano, que estão tão bem expressos na sua grande obra-prima, “Vidas secas”. Ele sempre defendeu a liberdade e o respeito aos direitos individuais, especialmente depois de ter sido preso, sem direito a julgamento, pela polícia política do Vargas. Então, a família fechou parceria com o The Innocence Project Brasil, iniciativa do terceiro setor, que defende pessoas presas injustamente.
A família vai destinar parte do que recebe da editora para este trabalho tão importante e que tem, em sua equipe de colaboradores, a bisneta do Graciliano. Acreditamos que, assim, fazemos jus ao legado do escritor alagoano.
Como boa parte dos brasileiros, fui muito impactada pela leitura de “Vidas secas” no Ensino Médio. Fabiano, Sinhá Vitória e seus filhos me deixaram reflexões importantes e moldaram meu imaginário do sertão. Anos depois, passei a ver Graciliano com o olhar do trabalho. Minha primeira reunião na editora foi em Salvador, com a família Ramos, para negociar, junto de meu pai, uma das renovações do contrato. A última renovação, essa em que estendemos os direitos autorais para além do domínio público, me deu muitas alegrias, já que foi o primeiro grande contrato que assinei depois que meu pai morreu, e que incluiu essa cláusula inédita, um pequeno gesto de delicadeza para selar uma bela parceria que se iniciou com meu avô, um ano antes de eu nascer.
A Record seguirá por muito tempo como referência para Graciliano Ramos e ainda é a única que publica a obra completa, autorizada pelo próprio autor. Publicamos recentemente um lindo box reunindo “Vidas secas”, “São Bernardo” e “Angústia”; em breve, publicaremos os relatórios que ele elaborou quando era prefeito de Palmeiras dos Índios, em Alagoas. Foram esses textos burocráticos que despertaram a atenção de um grande editor da época, que concluiu: “Aquele mero prefeito nordestino devia ter um romance pronto na gaveta”. Assim, descobriu-se “Caetés”, sua impactante estreia literária.
Temos todos os livros dele, além de versões variadas de seu grande clássico. ‘Vidas secas’ já foi publicado em tudo que é formato, com capa dura, com capa brochura, em quadrinhos e, mais recentemente, em formato de bolso, com um preço acessível para todos.
Acredito que a comemoração dos 50 anos de parceria com a família Ramos será junto com a da marca de 2 milhões de exemplares vendidos desse clássico fundamental. Estamos quase lá!
Roberta Machado é vice-presidente e sócia do Grupo Editorial Record, onde trabalha há 18 anos. É mestre em Administração de Empresas pela COPPEAD – UFRJ e bacharel em Economia pela PUC-Rio, onde também cursou um MBA em Marketing. É membro da diretoria do Snel desde 2015. Antes de ingressar na editora fundada por seu avô, há 81 anos, Roberta trabalhou cinco anos na Shell Brasil.