Há alguns anos, a prestigiada revista americana The Economist, publicou uma matéria de destaque onde afirmava: “Não pergunte ao seu médico se, mas quando, você terá câncer de próstata!”
Os motivos para tamanho alarde são reais. O câncer de próstata é o que mais afeta homens (atrás apenas do câncer de pele), e o seu diagnóstico se torna mais provável com o envelhecimento, independentemente do histórico familiar, o que só aumenta o risco!
Estima-se que, em países em desenvolvimento, como o Brasil – onde o envelhecimento populacional é um dado recente, e, infelizmente, o acesso à saúde e a prevenção não são fáceis -, a doença será cada vez mais um enorme problema de saúde pública.
Alheio a isso, homens não parecem ter o mesmo cuidado ou compromisso com a sua saúde. Diferentemente das mulheres – acostumadas a visitas regulares a seus ginecologistas desde a puberdade e fiéis aos exames preventivos -, homens tendem a negar assuntos relacionados à saúde, só procurando a atenção médica na presença de dores ou outros desconfortos permanentes. Um grande engano!
Os estigmas ligados ao diagnóstico de câncer são vários, e cada pessoa tem percepções e medos diferentes. No entanto, ao contrário das mulheres, homens têm maior tendência ao isolamento e não compartilhamento das emoções. O fato é tão comum que muitos chegam ao consultório por pressão de suas companheiras, em geral, muito mais preocupadas e atentas.
Pode parecer algo ultrapassado, mas o fato é que, em pleno século XXI, com ampla informação disponível, a doença ainda acarreta forte preconceito, ligado ao receio de perda de potência sexual ou mesmo de incontinência. Será que esse medo é justificável?
Em matéria de capa, o jornal americano The Wall Street Journal, publicado há alguns meses, relatava que homens com câncer de próstata podem viver anos com terapias menos agressivas, o que gerou um forte impacto positivo na mídia americana. O jornal se referia a um grande estudo publicado na também importante revista New England Journal of Medicine, provando que, em homens com doença localizada e considerada indolente, a observação ou vigilância ativa, sem terapia imediata, conferia resultados semelhantes a outras terapias, como cirurgia e radioterapia. Ou seja, homens poderiam até conviver com a doença, desde que acompanhados de forma correta, e sem tratamento.
A tecnologia e a ciência nos ajudaram muito nos últimos anos, mas as boas novas não param por aí. Neste mês, quando celebramos o Novembro Azul, lembramos que o cuidado com o câncer não se faz de forma isolada. A maior mudança ocorrida nos últimos anos foi a integração dos diversos profissionais, capazes de cuidar dos pacientes de forma integrada, semelhante ao que já ocorre nos Estados Unidos e na Europa, porém nada supera a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
Muitos pacientes se perguntam: “Mas por que eu?” Quando, na verdade, deveriam se perguntar: “Por que não eu?” Diante das estatísticas, a mensagem final para os milhões de homens que hoje convivem com a doença e para aqueles que podem ter que enfrentá-la é a de compromisso com a nossa saúde – seja na realização de visitas regulares ao médico e exames indicados, seja na tão importante atenção à qualidade de vida, que inclui a prática regular de exercícios físicos, alimentação saudável, controle do peso e manejo do estresse. Ao depararmos com um diagnóstico e possíveis tratamentos, tudo que não queremos é que nossa condição não nos permita receber o melhor cuidado disponível e, com isso, comprometa nossas chances de cura e de vida longa e com qualidade.
Daniel Herchenhorn é oncologista clínico, Coordenador Científico da Oncologia D’Or, doutor em Oncologia pela USP, professor de Oncologia do Moores Cancer Center, University of California San Diego e membro do Comitê de Câncer de Próstata da Revista Lancet e da American Society of Clinical Oncology.