Em meados de 2015, começamos a sentir os efeitos do renascimento dos psicodélicos, uma aliança da ciência com a via terapêutica, visando à diminuição do sofrimento humano.
Como resultado de inúmeras pesquisas em diferentes universidades do mundo, vimos o surgimento do Atlas of Psychedelic Research — um mapa interativo das pesquisas com psicodélicos recentes e em andamento.
Nesse último 16 de outubro, perdemos Roland Griffiths, o psicofarmacologista pioneiro nos estudos com psicodélicos e diretor do Centro de Pesquisa Psicodélica e da Consciência, da Johns Hopkins University. Diante da velocidade como seu nome e legado circularam na Internet, tornou-se notório o alcance do debate quanto à urgência de um novo viés para o tratamento de depressão, ansiedade, déficit de atenção, compulsões, adições e outras afetações humanas, massivamente controladas pela medicina alopática.
Para quem está caindo de paraquedas e não sabe nada disso, basta assistir a duas produções da Netflix: “Fungos Fantásticos” (2019), documentário dirigido por Louie Schwartzberg, e “Como Mudar sua Mente” (2022), a série que leva o mesmo nome do livro, lançado pelo escritor internacionalmente conhecido Michael Pollan. Depois disso, você verá cair por terra antigas ideias no que diz respeito ao uso dos psicodélicos.
Além disso, recentemente, pessoas, como Gisele Bundchen, afirmaram consumir cogumelos para ganhos de vitalidade e autoconhecimento.
Como psicóloga e psicanalista de orientação lacaniana, clinicando desde 2003, não foi sem consequências esse chamado. Sou híbrida em muitos aspectos: uma pernambucana que debutou no Rio, viveu na Europa e foi desenvolvendo uma identidade carioca em Ipanema. Hoje tenho residência paulistana, mas vivo na ponte aérea, atendendo entre Rio e São Paulo.
Desde 2015, acompanho os avanços das pesquisas internacionais com psicodélicos, tendo como referências brasileiras Sidarta Ribeiro e Stevens Rehen, que, há poucos meses, recebeu a medalha nacional do Mérito Científico.
Em 2020, dei início a minha pesquisa, ainda em desenvolvimento, que recebeu o nome de Clínica da Integração em Psilocibina, baseada em relatos de pacientes. Definitivamente, temos um vasto percurso pela frente e em direção da cura, considerando a ciência, a terapia assistida por psicodélicos e a escuta do inominável, que dá ressonância a essa clínica.
Ticiana Porto é psicóloga, psicanalista e responsável pela edição dos Diários Clínicos de Lygia Clark, na Bienal do Mercosul 2022.