O circuito da arte carioca já é intenso e, quando algum evento acontece em véspera de feriado, tem clima de festa, como nessa terça (14/11), na abertura da exposição “Espectros (Cadeira 17)”, de Nuno Ramos, que traz uma grande instalação na Anita Schwartz Galeria, na Gávea. Os convidados eram recebidos com cerveja para dar uma aliviada no calorão (a chuva baixou apenas alguns graus) e o clássico biscoito Globo.
O artista fez uma performance de 50 minutos com os objetos da instalação: uma cortina vermelha, com 5 metros de altura, uma corneta militar e três cadeiras, que viraram personagens que ganhavam “vida” através dos áudios.
O sistema mecânico e automático de roldanas e contrapesos faz com que os objetos subam e desçam, em sincronia com as vozes. O título remete a um trabalho do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) e à cadeira ocupada por Fernanda Montenegro, na ABL. “Seu discurso na cerimônia de posse é uma das fontes e inspirações deste trabalho”, diz o artista.
A voz de Fernanda, além das de Henriqueta Brieba (1901-1995), Zezé Macedo (1916-1999), Tônia Carrero (1922-2018), Cleyde Yáconis (1923-2013), Norma Bengell (1935-2013), entre outras, acionam uma antiga cadeira do Teatro Municipal de São Paulo.
Nuno fez uma pesquisa com mais de sete mil fragmentos de áudios em arquivos históricos e na Internet, entre eles, falas ou diálogos de atrizes, âncoras do Jornal Nacional da TV Globo, ministros do STF, personagens da cultura brasileira e ainda do cantor e compositor João Gilberto (1931-2019), tudo se encaixando e dando um sentido à performance.
“Foi um trabalho exaustivo e minucioso, posso dizer, infernal, produzido em um ano. É uma homenagem ao teatro, uma fantasmagoria. Lidar com vozes preexistentes me deu uma liberdade maior para criar o texto. Elas falam o que querem, e eu tento fazer com que falem o que quero. Dessa luta, saiu meu texto”, explica.