Nosso rosto é um registro fiel de tudo que vivemos durante a nossa vida: emoções, estilo de vida, alimentação e até mesmo o funcionamento dos órgãos do nosso corpo. É através dele que expressamos nossos sentimentos e a forma como estamos presentes no mundo, e algumas marcas expressivas têm relação direta com o funcionamento dos órgãos. É assim que a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) enxerga o nosso rosto: como rastros. Será que é isso que causa tanto temor?
Em 2014, fiz uma pesquisa de mestrado no programa EICOS-UFRJ, sobre a técnica da Avaliação Facial na Medicina Chinesa. A pesquisa me inspirou na escrita do meu primeiro livro, “Face a Face com a sua saúde: a arte milenar da leitura facial na MTC”. Na Medicina Chinesa, para se chegar a um diagnóstico, avalia-se o exterior, como a língua, o pulso e a face, porém, aqui no Ocidente, o exame da face é pouco utilizado. Foi isso que mais me estimulou na escolha deste tema.
A pesquisa foi dividida em três etapas. Na primeira, fizemos a avaliação facial dos participantes, através das marcas expressivas, olheiras, coloração do rosto, e salvamos em um arquivo. Na segunda, foi realizada uma entrevista com a finalidade de identificar sintomas, adoecimentos e estilo de vida de cada participante. Por último, o acesso ao prontuário de avaliação, feito pelos professores e alunos da clínica-escola, contendo os resultados dos exames da língua e do pulso, e diagnóstico oriental de todos os participantes. Por fim, realizamos uma triangulação dos dados para verificar a potencialidade da técnica da avaliação facial na MTC e, assim, comprovamos a eficácia da técnica.
O conceito de QI, que seria energia vital, é de fundamental importância para a saúde. QI (em chinês) e KI (em japonês) podem ser comparados ao conceito de Prana, utilizado na ioga e na Medicina Indiana, que significa “força vital”. Quando essa energia é fluida, circula pelo nosso corpo e pelos meridianos de acupuntura que o nosso estado de saúde é bom; caso contrário, se essa energia está estagnada e não circula, adoecemos. São os bloqueios energéticos os maiores causadores dos adoecimentos. Esse bloqueio pode ser gerado pelas emoções, por edemas, por imobilidade de uma região, ou mesmo por algum machucado. Pensa então em um rosto totalmente esticado e sem mobilidade: que estrago energético!
A face é um microssistema; através dela, passam todos os órgãos. Para explicar como a Avaliação Facial acontece, temos como exemplo uma pessoa muito raivosa. A raiva tem relação com o meridiano do fígado, a sua cor é verde; não é à toa que o incrível Hulk ficava verde quando estava com muita raiva. Eita, esse exemplo denunciou a minha idade! Mas tudo bem, eu posso fazer preenchimentos, botox, harmonização facial e consigo enganar a minha idade e até algumas emoções que queira esconder de vocês.
Voltando lá para os raivosos, além de essa emoção gerar uma estagnação na testa, bem entre as sobrancelhas, a pessoa também franze muito essa região quando brava, produzindo uma tensão no local — isso forma uma marca vertical, frontal, entre as sobrancelhas. Gosto de usar o exemplo da raiva e da marca expressiva referente a ela, pois é justamente o local onde as pessoas mais fazem botox ou algum tipo de procedimento. Ao analisarmos pela lógica da Medicina Chinesa, ao gerar uma paralisação local, a estagnação aumenta, quando o indicado seria o inverso, movimentar. É isto que proponho tanto no tratamento de acupuntura facial quanto nas práticas on-line do método “Rejuvenescimento Integrativo”: resolver a estagnação energética através de massagem facial e de exercícios.
Acontece que o modismo, a busca por um rosto perfeito, os filtros e as inúmeras propagandas nas redes sociais fazem com que as pessoas recorram, de forma abusiva, aos procedimentos estéticos, como o botox, os preenchimentos, utilizando ácidos e a harmonização facial, para seguir um padrão estabelecido de como se deve ser. O rosto padronizado seria uma mistura de Barbie com a boca da Angelina Jolie e com o esboço de um leve sorriso no rosto. Pronto, está feita a imagem perfeita, a exigida pelas redes sociais e, ainda por cima, a expressão facial resultante remete a um constante estado de felicidade. Esse é o mundo que as pessoas chamam de “mundo real”.
A padronização da beleza não é recente: foi ela que excluiu as mulheres negras, indígenas, e suas descendentes, ao estabelecer que a beleza ideal e a que deveria ser seguida era a europeia. Isso é antigo e aconteceu com as roupas, o corpo, cabelo e, mais recentemente, com o rosto. O estímulo ao consumo por esse padrão de beleza foi aguçado com as redes sociais, que, o tempo todo, derramam mensagens, através de posts, stories e reels, de como você deve ser para estar sempre bela. O Rejuvenescimento Integrativo aumenta o potencial de cura e trata a causa-raiz dos incômodos, promovendo uma integração entre a mente, o corpo, o espírito e a beleza.
Marta Rocha de Castro é fisioterapeuta, acupunturista, doutora em Geografia e pesquisadora na área de Medicinas Tradicionais e Práticas Integrativas da Saúde. Criou o método “Rejuvenescimento Integrativo”, em 2021, através de cursos on-line e presenciais, como na Casa Azul: Artes e Terapias, em Santa Teresa, fundada pelo ator Anselmo Vasconcellos. O próximo será no teatro Domingos Oliveira, no Planetário da Gávea, todas as terças-feiras, às 19h, a partir de 7 de novembro.