Tem coisa que muda, mas não muda.
Quer dizer, muda sem deixar de ser o que já não deveria ser mais.
Veja o X (antigo Twitter). Ninguém escreve “Li no X”, mas “Li no X (antigo Twitter)”. O aposto “antigo Twitter” ainda vai acompanhar o X durante muito tempo — e talvez até sobreviver a ele. Sem contar que, em vez de esquecer o antigo nome, vamos é reforça-lo.
— Como é que se chamava aquela rede social que era praticamente um octógono de luta livre, e que um bilionário comprou por uma fortuna, mudou o nome e acabou ali pelos meados do século XXI?
— “Antigo Twitter”, eu acho.
— Isso, “Antigo Twitter”. Nome estranho para batizar um aplicativo num tempo em que o bom era ser moderno, né?
— É, parece que teve outro nome — uma letra, um numeral, uma coisa assim. Mas todo mundo conhecia mesmo por “Antigo Twitter”.
Foi assim durante muitos anos com a Rua Vinícius de Moraes (“Ah, a antiga Montenegro! É a segunda, depois da Maria Quitéria.”). Enquanto houver algum sobrevivente do point da Montenegro — versão mais comportada do Surubão de Noronha —, a homenagem ao poeta não estará definitivamente consolidada.
Mesma coisa com a Dom Hélder Câmara, em Del Castilho. Até que não haja mais vestígios do templo da Universal, a via permanecerá como “a antiga Suburbana” — mais por intolerância religiosa que por saudosismo. (E vamos combinar: “antiga suburbana” soa a personagem do André Gabeh que se mudou de Madureira para a Barra e…).
Baby do Brasil (antiga Baby Consuelo) conhece bem a dificuldade de rebranding. Quase tanto quanto aquele símbolo impronunciável, sempre seguido da expressão “o artista anteriormente conhecido como Prince”. Cassius Clay passou por isso ao adotar o nome de Muhammad Ali – com muito mais êxito que Yussuf Islam (que possivelmente ficará tão grudado a Cat Stevens quando o Twitter ao X).
Há casos mais sérios. Experimente chegar à Barra e perguntar pelo Qualistage.
— Quem?
— Qualistage. É uma casa de espetáculos…
— Ah, o antigo Metropolitan, antigo Claro Hall, antigo Citibank Hall, antigo Metropolitan de novo, ali na Ayrton Senna, antiga Alvorada, depois do Alvorada, antigo Cebolão. Passa pelo Assai, antigo Extra, e, quando chegar na Cidade das Artes, antiga Cidade da Música, vira à direita e vai toda vida…