É muito triste ver o sofrimento de tantas pessoas por causa da monogamia tóxica.
Essa forma de opressão psíquica foi inventada por nossos bisavôs, australopitecos, para que não tivessem que caçar um mastodonte por dia e, no fim, alimentar a prole alheia.
Ou seja, o ciúme, a possessividade, o casamento monogâmico e a fidelidade são frutos da preguiça.
Depois do teste de DNA – pelo qual os australopitecos esperaram em vão — não há mais desculpa. Só mata um mastodonte por dia – ou aguenta um batente de oito horas, o que dá mais ou menos na mesma — com o risco de garantir a propagação do gene alheio quem quer.
Os métodos contraceptivos — ortodoxos ou nem tanto — existem desde Onan, pelo menos. Por volta de 2.000 a.C, os egípcios já fabricavam preservativos (com tripas de animais) e as mulheres faziam a sua parte, com espermicidas à base de fezes de crocodilo, mel e bicarbonato (não tente isso em casa). Os chineses, mais elegantes, inventaram o preservativo de papel de seda, untado com óleo (o que explica haver 1,5 bilhão de chineses e só 110 milhões de egípcios). Tudo para não ter que trocar fraldas desde o início da puberdade até a menopausa — mas, principalmente, para poder pular a cerca sem maiores sequelas.
Na semana passada, uma cantora — que tem como um dos maiores sucessos uma canção que diz “Eu vou comer você, eu vou lamber você / E quando eu me satisfizer / Eu vou largar você — largou o namorado porque ele lambeu outra. E purgou, em público, a dor da traição.
Ora, traição é continuar assistindo sozinho/a/e a série da Netflix e não rebobinar até o ponto em que você parou. Porque você liga para retomar a história e saber se a mocinha vai mesmo descer até o porão escuro (com a lâmpada piscando), levando uma lanterna com pilha fraca, numa noite de tempestade, para verificar que barulho é aquele — e já dá de cara com ela desenvolvendo Síndrome de Estocolmo depois de passar seis anos em poder do psicopata.
Meia hora de diversão com terceiros/as/es não é traição. É sair da mesmice.
Traição é tomar o seu whey e não te avisar que acabou. É usar todo o gelo e colocar a forminha vazia de volta no freezer. Traição é guardar a manteiga na geladeira, sabendo que daí a meia hora você vai tomar café.
Uma escapada na hora do almoço com colega/o/e de trabalho não é traição. É reciclagem de conteúdo.
Traição é tirar o seu celular do carregador para carregar o dele/a/o, e não o conectar de volta. É ajustar o banco do motorista, o retrovisor e mudar a estação do rádio e não deixar nas mesmas condições em que encontrou. Traição é pedir pizza portuguesa e esquecer de mandar tirar o pimentão e a calabresa.
Traição, mesmo, é deixar o marasmo e a falta de imaginação desgastarem o casamento.
Uma poligamia saudável — seja a explícita, dos relacionamentos abertos, ou a gostosa, dos relacionamentos “fechados” — traz muito mais benefícios a quem a pratica e a quem finge ignorá-la.
O mundo não é monocromático. A língua não é monossilábica. O corpo não é monolítico.
Não se enxerga bem com monóculo. Há mais quedas de tensão no sistema monofásico.
A economia não vive de monopólios. Nem a agricultura, de monoculturas.
As melhores decisões são as colegiadas, não as monocráticas. Não há leitura mais árida que a de uma monografia.
Por que cargas d’água alguém ainda sofre por causa da monotonia, digo, da monogamia?