Desde que o governador Cláudio Castro sancionou a lei, de autoria dos deputados Renata Souza (Psol), Dani Monteiro (Psol) e Átila Nunes (MDB), tornando o acarajé patrimônio de valor histórico e cultural do Estado do Rio, o assunto está apimentado.
Nesse domingo (29/10), a Associação das Baianas de Acarajé, Mingaus, Receptivos e Similares do Estado da Bahia (Abam) fez uma nota explicativa em apoio à lei não só no Rio como também em todos os estados. “Precisamos juntar nossas vozes e cobrar dos nossos parlamentares da Bahia uma posição favorável à nossa luta. Queremos, sim, que o acarajé seja protegido e valorizado em todas as partes do mundo, mas a nossa expectativa é que a Bahia, terra mãe do Brasil, abrace a causa. Embora a associação direta e legítima seja baiana, o acarajé está na paisagem do Rio — é uma invenção do povo negro, africano, que está em toda parte do Brasil”, diz trecho da nota.
Na Bahia, a lei que protege o acarajé segue em pauta; apenas o ofício das baianas é reconhecido nacionalmente desde 2005. No Brasil inteiro, são 6.300 baianas do acarajé.
A coluna conversou com Rosa Perdigão, dona do Cheirinho de Dendê, que surgiu em 2009 num tabuleiro na Cinelândia; ela já recebeu o título de Iyá L’akará (mãe do Acarajé), do rei Ooni de Ifé, da cidade de Ifé, na Nigéria (encantado com o tempero da carioca). Atualmente é coordenadora-geral da Associação Nacional das Baianas de Acarajé no Rio (ABAM/RJ).
Rosa está na Nigéria e disse que “quem teria que reivindicar o tombamento eram as africanas (risos). Na verdade, temos que unir forças e construir esse legado e salvaguarda em relação ao acarajé. No meio da treta, eu visto a camisa e concordo que o acarajé tem que ser reconhecido em todos os estados, nacionalmente, como assim é o ofício. É uma profissão que muitas baianas não só de naturalidade fazem, muitas foram para o Rio, SP, Minas, baianas que são filhas das filhas das filhas das baianas. É uma profissão. Tivemos vários problemas em Salvador, com baianas que não usam roupas características e o acarajé com nome de “bolinho de Jesus”… E o Rio é o estado que tem mais baianas nessa profissão, baianas cariocas, baianas de Salvador”.
A palavra acarajé vem do iorubá: akará = bola de fogo) e jé = comer, sendo assim, “comer bola de fogo”. A receita chegou ao Brasil vinda do Golfo do Benim, na África Ocidental, por imigrantes africanos na época da escravidão.