– O próximo!
– Boa tarde. Queria fazer um registro de nascimento…
– Qual o nome da criança?
– Sandra Regina…
– Pode soletrar, por favor?
– Como assim?
– Para o registro, preciso saber como se escreve esse nome.
– Claro. Sandra. S-A-N-D-R-A.
– Só assim?
– Só assim como?
– S-A-N-D-R-A?
– Sim.
– Não tem nenhum H entre o D e o R?
– Não. Sandra. Normal.
– Sem H depois do S, ou antes do N?
– Não, não. Sandra sem H.
– Nem dois NN?
– Não. Do jeito que soletrei. S-A-N-D-R-A. Depois R-E-G…
(virando-se para o fundo do cartório)
– Railanndhersson, existe esse nome, “Sandra”?
– Com Ç ou SS?
– S simples. Sem NN, sem H, sem W, sem Y, sem nada.
– Acho que não. Mas é a família que escolhe. Se eles querem isso…
(voltando-se para o cliente, no balcão)
– Olha, esse nome não existe. Nomes que não existem podem causar problemas para a criança no futuro.
(Railanndhersson grita lá do fundo)
– Pesquisei aqui, Dihennifher. Existe, sim. Mas foi usado pela última vez em 1962, em Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais.
(Dihennifher olha para o cliente como quem diz “Eu estou avisando…”).
– É o nome da avó dela.
– Ok, vocês é que sabem. Como é mesmo o segundo nome?
– Regina. R-E-G-I-N-A.
– Pode repetir?
(o pai não repete — apenas olha para Dihennifher com cara de “Não vai começar tudo de novo, vai?”)
– O senhor já pensou no que essa criança vai ter de problema quando tiver que preencher um cadastro? Vai precisar soletrar todas as vezes, porque ninguém vai acertar a grafia. Conselho: deixa Sandra, tudo bem — mas coloca Regynna. Ou Rheginnah. Ou Hegy…
– Olha, Jenifer…
– Dihennifher.
– Ok, olha, Di, a gente quer homenagear as duas avós. Só isso. Eu deixei o carro com o pisca-alerta ligado, minha mulher está lá com as bebês, no sol, o carro não tem ar condicionado e eu não posso me demorar muito. Só faz o registro, por favor.
– Ok, mas sabe o trabalho que dá pra mudar o nome depois, não sabe?
– Sei. Então, a primeira é Sandra Regina Pereira dos Santos e a outra é Vera Lúcia…
– Pode soletrar, por favor?