Nada lacônica, Manu Buffara mandou essa depois de sair do México com o prêmio de melhor chef mulher da América Latina de 2022 (pelo “Latin America’s 50 Best Restaurants”): “Quero dedicar este prêmio a mim mesma. Todas as noites em que eu estava na cozinha, trabalhando enquanto havia festa, um show, um casamento lá fora, meus amigos e familiares estavam se divertindo”. Há alguns meses, ela entrou para a lista das dez mulheres de sucesso do ano na lista da “Forbes 2023” e disse: “O sucesso é fruto de muito trabalho duro, de dedicação, sacrifício, entrega e persistência. Sucesso é o resultado da paixão que colocamos no trabalho que realizamos, e na insistência com que fazemos.”
Aos 39 anos, a taurina natural de Curitiba (mas criada em Maringá), mãe da Maria Helena e da Maria, toca o Manu com ingredientes locais e sazonais. Em setembro, ela vai inaugurar o ELLA em Nova York, no qual pretende abusar dos produtos americanos “hiperlocais e sustentáveis”. Em outubro, chegará a Paris, para cuidar de um restaurante pop-up com insumos brasileiros. Antes de se lançar no mundo, ela tem uma outra estreia aqui, abaixo do Equador. A chef número 1 do Continente participa, pela primeira vez, do Rio Gastronomia, que começa nesta quinta (10/08) e se estende até 20 de agosto, no Jockey, Gávea (10 a 13/08 e 17 a 20/08).
São 34 restaurantes, 120 receitas e oito dos melhores chefs da América do Sul, entre eles, Manu Buffara, que, no Dia dos Pais (13/08), participará de uma conversa com o público sobre sua trajetória e projetos voltados para o futuro da alimentação — uma chance de ouvir a paranaense contar ainda sobre a relação com as filhas e as outras cozinheiras, a infância, os ídolos, a insegurança alimentar e, claro, o doce sabor de ser a chef do gênero feminino mais aclamada hoje.
“Quero contar um pouquinho do nosso trabalho em Curitiba, das pessoas, dos produtos, do nosso envolvimento com a cidade, nosso trabalho sustentável”, adianta Manu, que desembarca em solo carioca carregada de dois produtos que acompanham sua trajetória: tomates da horta e bottarga (“como se fosse o caviar para gente aqui no Sul”).
À coluna, Manu adianta que o ELLA será seu primeiro restaurante fora do País, instalado no bairro Chelsea, em Manhattan. Depois de ter construído uma carreira de presença internacional em congressos e até assinando um menu pop-up no hotel Soneva Fushi nas Maldivas, ela vai mesclar técnicas da culinária brasileira com ingredientes locais e outros que deve levar do Brasil, como palmito pupunha, muitos produtos à base de mandioca e cogumelos secos de seu estado. “Nunca pensei em levar o Manu para nenhum lugar; ele só pode ser em Curitiba.”
Não será um restaurante com menu degustação, mas ela promete mostrar uma versão moderna da cozinha brasileira em uma uma cozinha completamente aberta, numa das cidades mais gastronômicas do mundo.
“Eu sou muito fã da cozinha brasileira de um modo geral. Gosto do tempero, das cores, das combinações, do frescor. Para citar um ingrediente, eu diria o mel das abelhas nativas, e a vastidão de sabores, dulçor e acidez que eles oferecem’, me disse Manu, há alguns meses, durante um papo por WhatsAp.
A semelhança com a encantadora menina de cabelo preto e franja, que adora viajar e sai do interior da França para trabalhar num café em Paris, não é apenas uma mera coincidência. A “Amelie poulin” curitibana vai comandar um restaurante pop-up no Bleu Coupole, na Galerie Printemps, em Paris, de outubro a abril de 2024: “superou qualquer sonho”. No menu, ela e o seu braço direito, Lucas Correia, irão servir priprioca, açaí, rapadura, iogurte e sanduíche. Touché!
Se para a crítica do Globo e curadora Luciana Fróes, o Rio vive um dos seus melhores momentos na gastronomia (“e será a cidade anfitriã da festa de premiação do 50 Best, em novembro”), nada mais up! do que essa estreia tão aguardada.
“Sempre tive ótimas impressões da culinária carioca, a boa vibe da gastronomia do Rio, cidade detentora de uma diversidade cultural, de pessoas e cozinhas — do Rafa Costa e Silva à Roberta Sudbrack, passando por Claude e Thomas Troisgros, todos amigos queridos. Não teria lugar melhor para trazer o 50 Best para o Brasil, onde nós poderemos mostrar o sabor de cada estado e região do nosso país.”
Bruno Calixto é jornalista de gastronomia.