Entrevista “Invertida” com Thalita Rebouças (escritora)
Alguém consegue imaginar uma Bienal do Livro no Rio sem Thalita Rebouças? É praticamente uma comunhão uma com a outra, vendo novas possibilidades a cada edição — pelo menos nos últimos 22 anos, dos 40 desde que a feira carioca começou, tímida ainda, no Copacabana Palace, em 1983.
O maior evento cultural da cidade e maior feira literária do País acontece de 1º a 10 de setembro, no Riocentro, com mais de 300 autores em 80 encontros com os leitores e mais de 200 horas de programação.
Thalita, uma das escritoras infantojuvenis mais lidas no País, já vendeu mais de 2,3 milhões de livros desde o lançamento de “Traição Entre Amigas” (2001), alguns deles adaptados para o cinema, como “Fala sério, mãe”, que tem no elenco Ingrid Guimarães e Larissa Manoela. Bullying, desilusão amorosa e descoberta da sexualidade são alguns dos seus temas. “A Bienal agora é uma quarentona de respeito, e fico muito feliz em fazer parte dessa história. Minha vida começou a acontecer na Bienal de 2001; sou grata porque eu ainda era nada quando comecei a ir, forçar a barra. Eles não me chamavam para os eventos oficiais, mas eu ia mesmo assim, até que eles me notaram e não me largaram nunca mais e vice-versa”, diz Thalita, que segue com a reputação altíssima entre a garotada.
UMA LOUCURA: Subir numa cadeira aos 25 anos, para vender meu livro na Bienal de 2001. Já que ninguém ia falar comigo na minha mesa de autógrafos, fiz do limão uma limonada. Foi a loucura mais maravilhosa da minha vida! Tudo começou ali.
UMA ROUBADA: Trilha. Não me chama pra trilha. Eu sempre me ferro: caio, saio toda picada (mesmo cheia de repelente), fico num mau humor horrível.
UMA IDEIA FIXA: Amo fazer exames. Amo. Parece loucura, eu sei, mas eu amo. Acho que estou cuidando da saúde, cuidando de mim, adoro as máquinas, os exames de sangue, acompanhar exames de amigos… Enfim, toda hora quero fazer um.
UM PORRE: Com minhas amigas, no meu aniversário. Invadimos um estúdio de tatuagem e tatuamos uma meia-lua inteira (taça de vinho)! Seis mulheres. Foi épico (rsrs).
UMA FRUSTRAÇÃO: Não ter feito Medicina — eu seria uma excelente médica. Me sinto médica (rsrs). Mas a escrita falou mais alto.
UM APAGÃO: O que eu tive quando estava escrevendo o que provavelmente seria o pior livro da história. Apagou tudo na minha cabeça. Graças a Deus!
UMA SÍNDROME: Tenho a síndrome da impostora. Quando meus livros começaram a vender, eu tinha certeza de que iam descobrir que sou uma farsa. Até hoje, ela bate de vez em quando.
UM INSUCESSO: Na cozinha. Quando quero, até faço direito, mas quebro uns três pratos, derramo alguns ingredientes, faço um barulhão e deixo o fogão em estado deplorável. Mas faço coisas gostosas quando quero.
UM IMPULSO: Brigadeiro. Eu não penso duas vezes quando me dá vontade; simplesmente, obedeço ao meu corpo e faço. Amo o meu, é muito gostoso, modéstia à parte (rsrsrs). Odeio granulado; gosto é na colher. E normalmente mato a panela em uma tarde; às vezes, em uma hora.
UM DESPRAZER: Desprazer é ouvir coisas etaristas, lidar com o etarismo, lidar com mulheres botando outras mulheres pra baixo, justamente no momento em que mais deveríamos nos unir. Quero, cada vez mais, falar sobre e para mulheres da minha idade. Quero mostrar que é real quando alguém de 50 diz estar se sentindo muito melhor do que aos 20.