Baiano de 1935, carioca convertido há mais de 60 anos, Evandro Teixeira saiu de Irajuba, povoado a 307 quilômetros de Salvador, para fotografar o Brasil. Nessa terça (29/08), ele inaugurou a mostra “Evandro Teixeira, Chile, 1973”, no CCBB, recebendo os convidados com uma câmera antiga pendurada no pescoço, a paixão da sua vida. São mais ou menos 160 fotografias do fotojornalista, que fez carreira na imprensa carioca por quase 60 anos, sendo 47 no Jornal do Brasil. A curadoria é de Sérgio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles, chegando por aqui depois do sucesso no IMS paulista; a pesquisa, de Andrea Wanderley, também da Coordenadoria de Fotografia do IMS.
O grande destaque são os registros de quando Evandro esteve no Chile, na década de 1970, para ver de perto a então recém-instaurada ditadura militar, comandada por Augusto Pinochet, com imagens incríveis do Palácio De La Moneda bombardeado pelos militares, dos prisioneiros políticos no Estádio Nacional em Santiago. Mas há também cliques dos anos de chumbo no Brasil, em um diálogo entre os contextos históricos dos dois países.
Está nas paredes, por exemplo, a “Passeata dos Cem Mil”, do dia 26 de junho de 1968, segundo Teixeira, uma das manifestações mais emocionantes que buscava tirar o País da ditadura — na época, a foto foi censurada na capa do JB. “Seria primeira página, mas, dentro da redação, tínhamos dois militares que eram censores e não deixaram a foto passar”, disse Teixeira. Aliás, a imagem vai fazer sucesso entre os que estiveram na passeata ou seus parentes: o fotógrafo Marco Rodrigues, por exemplo, se encontrou no meio da multidão e também identificou o ambientalista Alfredo Sirkis (1950-2020), a sua direita de óculos na imagem.
Outra imagem marcante foi a foto da morte do chileno Pablo Neruda — enquanto esteve em Santiago, ficou sabendo que o poeta não estava bem e, no dia 23 de setembro de 1973, um boletim médico confirmou. Na manhã seguinte, o fotógrafo conseguiu entrar, por uma porta lateral, no hospital onde estava Neruda. E assim encontrou o corpo do poeta sendo velado pela mulher, Matilde Urrutia. “Entrei com filmes e câmera escondidos nas roupas, fiquei dando voltas no prédio para achar uma brecha, até que uma porta se abriu. Entrei, caminhei um pouco, vi o corpo e tirei a foto — foi uma sorte absurda”, contou Evandro. Muitas histórias mais estão nas paredes do CCBB.