Os princípios da moda circular, ainda que pareça assunto recente, me foram passados desde a infância. No meu núcleo familiar, impulsionado por diversos fatores, desenvolvemos a cultura da compra dos usados, de ir a brechós, da doação, da troca de roupas em família, e também o hábito de questionar o desperdício têxtil que emergia na época – e que hoje parece ter se ampliado com o “fast fashion”.
Desde que me tornei mãe do João Pedro, em 2012, minha preocupação ambiental tomou outra proporção. Nesse ímpeto, decidi finalmente empreender no ramo que já tanto fazia parte da minha história: a moda, ou melhor, a moda circular.
Em 2015, num encontro repentino ao que seria hoje meu propósito de vida, convidada por amigas a visitar um espaço destinado a megabazares, deparei com caixas que seriam incineradas ou destinadas a aterros. Foi ali que tudo mudou e fez sentido ao mesmo tempo, como num passe de mágica!
Pesquisei profundamente como funcionava a indústria da moda em relação aos produtos obsoletos, fora do padrão de qualidade etc. Meu intuito era iniciar um projeto em grande escala, com o objetivo de ressignificar tudo que, para a indústria da moda, não fazia mais sentido, e assim gerar um grande impacto ambiental positivo (sem saber na época que essa prática tem um viés social fascinante).
A Farm foi a primeira marca a embarcar nessa comigo e de lá pra cá, já passaram, na Oficina MUDA, mais de 20 marcas parceiras: Cantão, Maria Filó, Vix , Min , Haigth entre outras…
Nessa jornada, encontrei uma equipe comprometida e motivada em atuar na transformação do resíduo têxtil da cadeia da moda. Juntos alcançamos a marca de mais de 600 mil peças ressignificadas, ou seja, peças que seriam descartadas ganharam uma nova vida útil.
Não existe planeta B e não existe opção de deixar para depois – nosso propósito continua a ser o de atribuir um novo valor aos resíduos, diminuindo o desperdício e o impacto socioambiental. É pela gente, é pelo mundo e é pelo nosso futuro, sempre inovando, aprendendo, e abertos a novas soluções!
Com a fundação da Oficina MUDA, possibilitamos inúmeras parcerias e colaborações com pequenas, médias e grandes marcas que, alinhadas ao nosso ideal, tornam possível a realização desse grande sonho. Mais do que isso, nossa prática tem um impacto social importante com a reabilitação da prática da costura, do artesanato, além da parceria com projetos sociais para o desenvolvimento de produtos que incluam as pessoas de menor poder aquisitivo na cadeia da moda circular.
Desenvolvendo novas soluções com criatividade, responsabilidade e coragem, compartilhamos um olhar necessário sobre o mundo da moda.
A Oficina MUDA é um projeto de construção e reconstrução que me relembra diariamente a intenção desse movimento. Nele aprendo e ensino gestão, empreendedorismo, sustentabilidade, inclusão, desenvolvimento local e liderança junto a um time de pessoas competentes, engajadas e, acima de tudo, sonhadoras com um futuro melhor.
Juntos podemos promover uma transformação para um futuro mais sustentável, inclusivo e circular. Esse é o nosso futuro!
Larissa Greven, carioca, mãe do João Pedro, formada em Direito e apaixonada por moda circular, fundou a oficina Muda em 2015. Atua como CEO e diretora criativa da marca, desenvolvendo projetos socioambientais, promovendo a economia circular e o desenvolvimento local.