Desde pequeno, tinha curiosidade de saber como as pessoas viviam; meu consumo eram revistas e publicações sobre arquitetura e decoração.
Quando chegou a hora do vestibular, meu pai, médico e filho de médico, apesar de desenvolver toda a minha noção de espaço e proporção, não queria que eu seguisse Arquitetura — não acreditava que eu conseguiria sobreviver com a profissão.
Afinal, à época, apesar de ser 1975, existiam três profissões promissoras: Medicina, Engenharia e Direito. Pois bem, fiz vestibular para Engenharia, Administração e Arquitetura. O primeiro resultado foi aprovação em Arquitetura na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Abandonei os outros vestibulares.
No primeiro semestre da faculdade, meu pai me indicou para estagiar em uma grande construtora local. Fui conversar. No retorno, ele questionou se teria acertado. Falei que não; não existia vaga para futuro arquiteto e, sim, para engenheiro. Meu pai ficou triste e disse que eu me virasse. Retruquei que não gostaria que ele mandasse em meus passos. Fui estagiar com habitação popular, na AMESA – Alagados Melhoramentos S/A, empresa do estado.
Um ano antes de me formar (1979), tinha meu escritório, que fazia pequenos projetos. Em 1982, com a recessão no País, o escritório fechou por falta de trabalho. Retornei ao estado (mãe) em 1983; daí tinha dois amigos e colegas. A primeira, Fátima Alonso, me convidou para fazer o quarto da irmã; acabei fazendo todo o apartamento. O outro, Fernando Calabrich, a sala do pequeno apartamento do cunhado. A partir desses dois trabalhos, chegaram todos os projetos até hoje.
Nesse período, aconteceram alguns fatos. Sempre gostei de qualidade e nunca tenho medo do que estou propondo. Em uma das últimas matérias da faculdade, Prática Profissional (jamais fui excelente aluno, sempre contei com colegas e amigos para estudar o suficiente para não repetir matérias), o professor pediu-me que fizesse a monografia; embora não gostasse de escrever, fiz. Solicitei à mãe de uma amiga que corrigisse a grafia, organizei o texto, envelopei, lacrei e entreguei. A nota e a leitura eram individuais, e eu fui o primeiro a ser chamado. O professor me pediu que localizasse meu trabalho; imediatamente achei e entreguei; depois, que localizasse o de outro colega. Demorei, achei, entreguei, e ele devolveu o meu sem abrir e sem ler. Questionei o porquê de estar com nota máxima; ele então respondeu: “Quem coloca o nome grande e muito visível na capa de um trabalho não tem medo do que faz”. Parabenizou-me e mandou seguir meu rumo. Daí para frente, sempre tive muito orgulho do meu trabalho; afinal, não faço projeto, não vendo projeto — faço e vendo felicidade para meus clientes.
Hoje tenho alguns amigos que começaram como clientes, e me orgulho de já estar projetando para seus filhos. E isso é muito bom! Minha equipe é de jovens, que me alimentam de informações, tecnologia e mundo. Espero que, quando aqui não mais estiver, eles possam continuar o trabalho criado por todos nós, minhas ideias e conceitos.
Eu me intitulo “Carioca Baiano do Mundo” por ter nascido no Rio, na Beneficência Portuguesa, de pais baianos. Meu pai fazia residência em Neurocirurgia na cidade. Aos 2 anos, retornei a Salvador, onde fui criado e formado.
Meu temperamento inquieto, curioso, faz com que o escritório tenha projetos por todo o Brasil, Europa, Lisboa, Bordeaux, Genebra, USA, Seychelles… Adoro trabalhar e fazer diferente. Amo Trancoso, Praia do Forte e todos os meus projetos que dão relaxamento e prazer à alma.
Este ano, pela segunda vez, vou participar da CasaCor Rio com o Living — espero que com boas emoções; afinal, a casa é maravilhosa!
Meus principais momentos de visibilidade foram em 1995. Primeiro, foi meu escritório em galpão sobre o mar, Centro Histórico de Salvador, que coincidiu com a primeira Casa Cor Bahia e lançamento de caderno de Arquitetura da Casa Vogue sobre meu trabalho. O segundo foi a inauguração do Trapiche Adelaide (restaurante) dentro do mesmo galpão, que era um antigo armazém de mercadorias que chegavam do Recôncavo Baiano pelo mar; depois virou uma marina com alguns escritórios, o meu um dos primeiros.
Em 1996, também sucesso foi a Cabana (refúgio) Casa Cor Bahia. Em 2002, a construção da minha casa na Praia do Forte, depois do apartamento do Corredor da Vitória em 2000. No mesmo ano, tentei assumir escritório em São Paulo, porém faltava estrutura. Recuei em 2004 e retornei em 2008. Hoje mantenho escritório em Salvador, minha raiz, e São Paulo, capital do trabalho, e agora, com alguns projetos na cidade onde nasci e amo, Rio de Janeiro.
E vamos nós Brasil e mundo afora!
David Bastos é arquiteto, seguramente com mais de mil projetos no Brasil e em outros países. Nome muito forte em sua área, só se sente feliz vivendo em Salvador, São Paulo e Rio, onde inaugurou novo apartamento, em Copacabana.
Foto: Vivi Terra