Admiro Newton, que matou a charada da gravitação universal — substituindo a explicação “as coisas caem porque sim” por “dois corpos atraem-se com força proporcional às suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que separa seus centros de gravidade”.
Mas admiro ainda mais quem descobriu que o abacaxi era comestível.
Respeito o arquiteto egípcio que, quando um cliente pra lá de importante pediu um túmulo cujo design não ficasse muito datado, olhou para o terreno e pensou: “É, dá para trazer dois milhões de blocos de pedra, cada um com duas toneladas e meia e fazer, sei lá, uma pirâmide”.
Mas respeito ainda mais o sujeito que partiu um cacau ao meio, olhou as sementes e pensou: “Hmmm, acho que se eu colocar essas sementes para fermentar por sete dias, deixar secar por duas semanas, torrar, moer, esquentar mexendo sem parar, adicionar açúcar, leite em pó e baunilha, passar por um rolo para refinar, esquentar e resfriar para garantir a formação de cristais estáveis, despejar em forminhas e esperar solidificar, isso vai virar chocolate”.
Fico embasbacado com Pitágoras, diante de um triângulo retângulo, ter concluído que a soma do quadrado dos catetos devia ser igual ao quadrado da hipotenusa.
Mas me embasbaca mesmo é o anônimo que pegou um copo, botou uma rodela de limão no fundo, encheu de gelo, despejou um bocado de um produto holandês originalmente criado para problemas renais (inventado em 1650) e inteirou com um medicamento indiano usado para combater a malária (patenteado pelos ingleses em 1858) e criou o gin tônica.
Respeito a ousadia de Copérnico e sagacidade de Galileu, respectivamente propondo e comprovando a teoria que tirou a Terra do centro do universo e a colocou (e, por conseguinte, a nós também) no devido lugar.
Mas meu respeito é maior por quem teve o discernimento de que um grão incomível, como o feijão, deveria ficar de molho por 12 horas e depois ser levado para a panela de pressão, enquanto outro grão incomível, como o café, deveria ser seco, torrado, moído, colocado no coador e, sobre ele, despejada água fervente — e não o contrário, o que nos livrou de tomar um intragável feijãozinho coado de manhã e comer uma indigesta cafezada (com pé de porco, orelha de porco e focinho de porco) aos sábados.
Tenho certo fascínio por Freud, que intuiu a existência do inconsciente, formulou o conceito de três instâncias psíquicas — o “isso”, o “eu” e o “super eu” (que, na tradução metida a besta, viraram id, ego e superego) —, mais a teoria das pulsões, do princípio do prazer e do desprazer, dos mecanismos de defesa e da transferência.
Mas me fascina muito mais quem achou que valia a pena criar uma caneta-tinteiro descartável, e inventou a esferográfica.
Reverencio o gênio de Darwin, que teve a grande sacada da teoria da evolução das espécies.
Mas minha reverência boquiaberta vai para quem fez a conexão entre o nascimento dos bebês e uma coisa específica entre os milhares de coisas aleatórias que aconteceram nos nove meses anteriores ao parto.
Einstein, Tesla, Turing, Hawking, Curie, Da Vinci, Descartes são responsáveis por invenções e descobertas incríveis nas áreas da física, da química, da mecânica, da astrofísica, da computação, da matemática.
Mas se tem uma coisa que nunca vou chegar a entender é como funciona o fechecler.