Invejo gente que tem tanta intimidade com as coisas e as celebridades que se refere a elas pelas iniciais. Pressupondo que sejam iniciais exclusivas, e que todo mundo saberá de quem, ou do que, se trata.
Não, não falo de quem usa CDA, JK ou JFK.
— Nunca imaginei que você fosse tão fã de MB — me escreve um amigo.
Sou? Se ele diz, devo ser. Mas será que se trata de Marlon Brando, Monica Bellucci, Manuel de Barros, Mel Brooks, Michelle Bolsonaro, Michelle Bachelet, Marcos Bagno? De alguns eu sou mesmo fã; de outros, guardo prudente distância.
Acabo descobrindo, por vias transversas, que está falando de Manuel Bandeira, efetivamente meu poeta favorito. Mas custava dizê-lo com todas as letras?
Num grupo de zap, comentam sobre WW. Todos concordam que seja ótimo. Será Wilson Witzel? Duvido. Wim Wenders? Pode ser, mas nesse grupo quase não se fala de cinema. William Carlos Williams? Não, aí seria WCW. Alguma guerra mundial? Sim, nesses grupos de zap, as guerras são WWI, WW2. É, descubro depois, William Waack.
Vamos combinar: de William Waack para WW é quase como abreviar “apartamento” como “apartamentº”.
— Os ingleses devem muito de seu caráter a WS — li outro dia.
Me peguei pensando no que teria toda aquela fleuma a ver com Walter Salles, Waly Salomão, Waldick Soriano ou Wesley Safadão. Depois de meditar um pouco sobre o papel da Wallis Simpson, me fixei em William Shakespeare, e fez mais sentido.
Até entendo abreviar Friedrich Nietzsche, Ludwig Wittgenstein, Gwyneth Paltrow, Matheus Nachtergaele, Arnold Schwarzenegger ou Clauddya Leitteh. Mas Shakespear, Shackespeare, Sheikspere… bem, o Bardo de Avalon — aí é muita preguiça de pesquisar e dar um copipeiste.
Tenho vontade — um tanto por pedantismo, outro tanto por vingança — de passar a falar também assim, em código.
— Sou fã de MM — e deixar a pessoa pensando em Marilyn Monroe, quando me refiro a Marília Mendonça.
Há o risco de acharem que seja Meghan Markle, e me olharem de banda. Mas são maiores as chances de virem à mente Marisa Monte, Malu Mader, Margareth Menezes, Matilde Mastrangi, Miriam Makeba, Martha Medeiros. Ou Marcello Mastroianni, Maurício Macri, Marcos Mion – ou mesmo os M&Ms.
Sigla, definitivamente, não é comigo. O trauma começou lá pela 5ª série, com MDC e MMC — nunca soube distinguir um do outro. Piorou quando descobri que também havia o acrônimo, que é a sigla com pretensão a substantivo. Para chegar ao paroxismo com LGBTQIAP e MDDCQGCDC.
IMO, toda sigla deveria vir acompanhada da tradução, para que pudesse ser entendida ASAP. FYO, levei um tempão para saber o que era TGIF, certamente a GOAT. BTW, eu ainda fico LMFAO (AKA ROTFL, IYKWIM) quando cometo ABM do tipo achar que XOXO seja algo como MYOB – ou que SOB signifique “Sounds of Brazil”.
Não, não há economia que justifique essa sopa de letrinhas.
Até porque durou pouco minha felicidade quando alguém disse que “EA é ótimo”.
Era só o vinho Eugénio de Almeida.
Eu devia ter desconfiado, quando disseram, em seguida, que ele tem acidez equilibrada…