As organizações sociais vivem fora e dentro de nós, de forma absolutamente imprevisível. Há 21 anos, idealizei e criei a ONG Escola de Gente com o objetivo de formar novas gerações de jovens aptas a não mais discriminar em função de diferenças e desigualdades de qualquer natureza.
Comecei, claro, com meu filho, Diego, e minha filha, Tatá. À época, eram estudantes: ele, de Direito; ela, de Artes Cênicas. Desde então, milhares de adolescentes e jovens de mais de uma dezena de países já passaram pela nossa formação em inclusão, diversidade e acessibilidade no mundo presencial, depois virtual e, agora, híbrido.
A Escola de Gente funcionou por cinco anos na garagem da minha casa. De lá, saiu pro Brasil e pro mundo, me proporcionando experiências de aprendizado interseccional e testando meus limites éticos para a garantia dos direitos humanos à exaustão, como faz até hoje. Felizmente, chego aos 66 anos (que acabei de completar) com a chama ardente, plena, pulsante que me fez criar a Escola de Gente. E que me toma por inteiro. Essa chama é como um monstro guloso que devo alimentar sempre com mais ação e ousadia, para que ele não me devore.
Nesse contexto, é que acabamos de lançar o ETA Festival, de Esquetes de Teatro Acessível. Convidamos artistas, grupos e coletivos de Artes Cênicas para se inscreverem neste, que será o primeiro festival de esquetes plenamente acessível do Brasil, um projeto idealizado pela atriz e diretora Carolina Godinho e o ator, diretor e dramaturgo Diego Molina, que fazem parte desse grupo de jovens que a Escola de Gente formou no conceito e na prática de uma sociedade inclusiva. Ambos são dirigentes do grupo Os Inclusos e os Sisos, projeto de arte para a transformação social da Escola de Gente, criado pela Tatá, em 2002, com demais estudantes do curso de Artes Cênicas da UniRio, como Carolina e Diego. O ETA está com inscrições abertas; os grupos ou artistas selecionados receberão premiação em dinheiro, além de formação em acessibilidade e inclusão. Os Inclusos e os Sisos se apresentam com plena acessibilidade física e comunicacional desde 2003 — existam ou não pessoas com deficiência na plateia — e já receberam dezenas de premiações nacionais e internacionais por esta e outras inovações.
A Escola de Gente segue entusiasmada com o ETA — cujas inscrições estão abertas até 4 de junho próximo — e com todo o aprendizado que este projeto poderá nos proporcionar. O edital do ETA, por exemplo, está disponível em nosso aplicativo VEM CA, em 14 formatos acessíveis, algo inédito até pra nós, que nos tornamos referência em acessibilidade e inclusão no mundo.
Eu me pergunto quem eu seria se não tivesse dedicado os últimos anos da minha vida à Escola de Gente, que me redimensionou por inteira, como se diariamente eu explodisse de dentro para fora sempre; por exemplo, que o direito à educação para uma criança com deficiência, na mesma escola onde seus irmãos e irmãs estudam, é negado; porque a Constituição brasileira continua sendo descaradamente desrespeitada… A educação inclusiva é uma das nossas principais bandeiras, flâmulas, metas, objetivos e razão de existirmos até hoje. Se gostou de saber mais sobre a Escola de Gente e o ETA Festival, conte e divulgue nossa história. Nós lhe agradecemos muito.
Claudia Werneck é jornalista e escritora especializada em Comunicação Inclusiva, fundadora da Escola de Gente, ONG, em 2002, com o propósito de colocar a comunicação a serviço da inclusão na sociedade, principalmente de pessoas com deficiência. É autora de 14 livros sobre inclusão em português, espanhol e inglês, com mais de 400 mil títulos vendidos, dos quais “Quem cabe no seu Todos?” é referenciada internacionalmente. É a única escritora brasileira recomendada oficialmente pela UNESCO e UNICEF.