Chega aos cinemas, dia 11 de maio, o documentário “Crônica de uma cidade partida”, de Ricardo Nauenberg. O filme, uma coprodução Globo Filmes e GloboNews, começou a ser gravado em 2017, e mostra uma realidade muito conhecida por aqui e pouco resolvida — o problema de habitação popular, através da história da Cruzada São Sebastião, no Leblon, formada por 10 prédios e 945 apartamentos. Os quase seis anos de espera não foram por isso. “Foi estratégico. Quis dar esse recorte de tempo porque o filme é sobre a história da Cruzada e mais sobre o problema da política de habitação popular. Ele tem a missão de provocar uma reflexão; é um tema muito duro que as pessoas não querem ver”, diz Ricardo.
E continua: “Não acredito que seja um filme de grande bilheteria, porque as pessoas não querem olhar pra isso. Vivemos numa sociedade muito cega, achando que está tudo lindo aqui embaixo, e não entende que está todo mundo num barco só. As pessoas ficam impressionadas quando a violência desce, mas não entendem que, para solucionar a violência, tem que solucionar habitação popular e criar políticas públicas, levar hospitais, escolas etc”.
Antes de começar a filmar, Ricardo frequentou a Cruzada por seis meses, conhecendo os personagens. Só depois é que começou a gravar entrevistas com centenas de pessoas por mais de um ano e meio, e escolheu nove, entre traficantes, policiais de elite, ativistas comunitárias e professores esportivos. “Esperei também para provocar uma reflexão não só do estado e da sociedade, mas deles mesmos, porque todo mundo é culpado. São 10 blocos que brigam entre si. Você tem que ter uma tomada de consciência coletiva e, nesse sentido, é mais fácil cinco anos depois, porque elas não tomam aquilo como um assunto pessoal do momento. É mais fácil que elas consigam olhar para as histórias antigas e refletirem, porque é o passado, mas rapidamente elas percebem que nada mudou. Essa é a minha proposta. É mais fácil glamourizar do que resolver. A classe média adora ir a baile na laje para dizer o quanto é moderninha, mas não vai andar pela rua 1 ou 2 da Rocinha, para tentar fazer algo. Cadê a sua atitude?”
O doc não terá pré-estreia — entra direto nas salas e depois vai para o GloboNews, em versão reeditada, mais branda: “A empresa não quer dar mais notoriedade a criminosos porque isso pode estimular a vaidade”.