Nos últimos meses, ouvimos falar muito sobre o câncer colorretal ou câncer do intestino grosso. Tivemos várias notícias sobre pessoas que morreram, adoeceram, receberam o diagnóstico, estão em tratamento, cirurgias, quimioterapias ou sobre novas drogas para o tratamento dessa doença. Realmente, o câncer do intestino grosso é o segundo mais prevalente no Brasil e a terceira causa de morte por câncer (via Instituto Nacional do Câncer). Precisamos falar mais sobre isso.
No entanto, o mais importante não foi dito. Ninguém precisa adoecer, sofrer ou morrer por câncer de intestino, porque esse tipo de tumor, na quase sua totalidade, tem prevenção! Não temos nenhuma campanha pública de prevenção do câncer de intestino; isso sempre me vem à cabeça. A população não é informada como pode ser evitado e, na sua grande maioria, não tem acesso à informação e muito menos à prevenção, ou seja, é curável se detectado precocemente. Precisamos falar sobre isso!
O que chamamos de prevenção primária, que são ações para evitar o surgimento da doença, inclui basicamente hábitos de vida, aqueles que todos conhecemos, mas muitos não ligam a mínima: não fumar, praticar exercícios físicos, manter o peso adequado, assim como a alimentação saudável são fundamentais. Uma alimentação rica em alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, cereais integrais, feijões e outras leguminosas, grãos e sementes. Também é importante reduzir o consumo de carnes processadas (salsicha, mortadela, linguiça, presunto, bacon, blanquet de peru, peito de peru, salame) e limitar a ingestão de carnes vermelhas até 500 gramas por semana.
A prevenção secundária, também chamada rastreio de câncer colorretal, é realizada em indivíduos sem nenhum sintoma, através do exame endoscópico (colonoscopia). É importante falar que, quando uma pessoa apresenta sintomas, já tem um câncer avançado! A maioria dos tumores do intestino tem origem em lesões pré-malignas que crescem sem causar nenhum tipo de sintoma e evoluem para o câncer. Através da colonoscopia, podemos identificar essas lesões na fase pré-maligna e ressecá-las através do procedimento endoscópico, evitando sua evolução. Atualmente, recomenda-se que essa prevenção tenha início a partir dos 45 anos, mesmo em indivíduos sem história familiar de câncer. Cito como exemplos os casos recentes das cantoras Preta Gil, de 48 anos, e Simony, de 46 anos, que não têm sido raros; atualmente, são mais comuns do que há meio século. Ambos os casos trouxeram muita luz sobre um assunto tão importante.
A informação é fundamental para a manutenção da saúde e para a prevenção de doenças. O câncer de intestino não seria o segundo tumor mais incidente na população brasileira se, em vez de falarmos tanto sobre tratamentos, investimentos em novos quimioterápicos, estivéssemos divulgando esta simples informação: o câncer de intestino tem prevenção! A população tem o direito à informação e à prevenção. Precisamos falar mais sobre isso.
Ana Maria Zuccaro, com consultório na Rua Visconde de Pirajá, é mestre em Medicina, especialista em Gastroenterologia e Endoscopia. É presidente da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva e chefe do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital de Ipanema.