No dia 11 de abril, viralizou um vídeo mostrando o Dalai Lama, 87 anos, atual líder budista do Tibet, beijando um menino na boca durante uma cerimônia pública e pedindo a ele que “chupasse a sua língua”. Parecia uma cena de abuso da criança.
Quando recebi o vídeo, fiquei tão chocada que pensei tratar-se de um “fake”. A imagem que eu tinha do Dalai Lama era de uma pessoa de muita sabedoria, integridade e bondade, portanto, não conseguia imaginar que essa cena pudesse ser verdadeira. Na era da desinformação, achei prudente verificar os fatos antes de compartilhar a notícia. Fui checar em diversos sites de notícias: o vídeo estava lá, confirmando a cena.
Meu estado de choque aumentou. Mais uma decepção!
Esse vídeo gerou uma revolta da opinião pública no Ocidente e pôs o líder religioso no centro de uma grande polêmica. Logo depois, o Dalai Lama fez um pedido de desculpas direcionado à família do menino e a quem se sentiu ofendido, alegando que tinha sido apenas uma “brincadeira inocente”.
Curiosa, eu quis sondar as pessoas através das minhas redes sociais para saber o que elas pensavam a respeito dessa situação. Eu queria saber se elas enxergavam um abuso ou uma brincadeira: todas enxergavam um abuso e estavam revoltadas ou decepcionadas.
Um dia depois, recebi um video feito por um homem tibetano que mostra a cena inteira sem edição, além de outras cerimônias em que o Dalai Lama faz os mesmos gestos — beijo na boca, mostrar a língua e apoiar sua testa contra a testa da pessoa, com adultos —, explicando que esses comportamentos são de afeto e fazem parte da cultura tibetana. Além disso, explicava os motivos de um complô, os quais estariam por trás da viralização do primeiro vídeo.
De repente, me senti confusa, mas fiquei com medo de ser mais uma manipulação para minimizar um abuso infantil. Passei do medo inicial (de julgar errado o comportamento do Dalai Lama) para o de fechar os olhos a um ato inaceitável.
Enquanto estou escrevendo este artigo, ainda não há um consenso em relação à real intenção do líder religioso. Há quem tem certeza de que foi um ato de pedofilia, e há quem acredita na versão da questão cultural e da brincadeira. Imagino que nunca chegaremos a um consenso total, pois cada ser humano tem suas próprias perspectivas em função de uma série de fatores: história e traumas pessoais, educação, cultura, medos, crenças etc.
Pessoalmente, acredito que tudo é possível. Hoje em dia, não duvido de mais nada: pode ser um abuso, pode ser um complô político, pode ser ambas as coisas. Espero que seja feita uma investigação e uma apuração mais profunda dos fatos.
Enquanto isso, gostaria muito que cada um pudesse manter o respeito em relação a pessoas que têm uma opinião diferente da sua. Ao mesmo tempo, entendo quem está tendo os seus gatilhos ativados quando vê essa cena e não consegue se conter, principalmente quem já sofreu um abuso. O abuso infantil é totalmente inaceitável — deixa traumas e sequelas emocionais gravíssimas. Não pode ser minimizado nem ignorado.
Sou a favor do respeito, da empatia e da busca pela compreensão mútua, mas compreender não significa aceitar o inaceitável. Empatia, sim; abuso, falta de limites e impunidade, não.
Boa semana!