Não estou entendendo nada! Todo mundo sabe que sou hiperpartidário de avanços no Turismo e no melhoramento dos lugares para exploração turística, desde que não danifiquem nem comprometam o Patrimônio Histórico. Sinceramente, estou preocupado com a questão do Pão de Açúcar: temos um tombamento da Unesco que preserva o Rio como paisagem, e isso acaba sendo muito sério!
Lembro que, à época em que apareceram com a ideia do Memorial do Holocausto no Morro do Pasmado, em Botafogo, o arquiteto responsável do órgão gestor federal elencou uma série de observações e restrições e que, passado um tempo, tudo foi flexibilizado e fizeram o monumento. Eu não falei nada, à época, porque achei que não afetaria muito, e, lá no fundo, fui favorável à construção do monumento apesar de estar preocupado com a perda do título da Unesco.
Quando eu era diretor-geral do Inepac, apareceu um grupo querendo fazer uma tirolesa na Pedra do Pontal, em Sernambetiba. Nesse caso, com o local sendo tombado pelo estado, encontrariam dificuldades na aprovação. Apesar de conspurcar a paisagem e acabar alterando o local significativamente, eu achava que um projeto como esse iria dar uma visibilidade ao Recreio, que seria muito oportuna, puxando o turismo nacional e o internacional pra lá. Então, a princípio, fui “simpático à ideia” antes de ver o projeto. Mas não soube de nada depois e acho que o CET deve ter indeferido, e o assunto morreu.
No entanto, no caso desse projeto de tirolesa no Pão de Açúcar, acho complicado pelo volume em potencial de fluxo turístico, que será excessivo. E se a Urca já tem o tráfego complicado nos fins de semana, imagine se ele aumentar significativamente?
O que tenho visto da alteração ao projeto inicial não será muito significativo: as perfurações na rocha, certamente, não causarão dano geológico. O que preocupa mesmo é o fato de uma “Paisagem Tombada” a partir de um processo de tombamento ser adulterada apenas para fins financeiros e promocionais. O resultado disso tudo a gente já sabe, não é?
Contudo, algumas coisas precisamos pontuar. Eu até posso simpatizar com algumas ideias, mas o que não dá para entender é isto: “O projeto previsto pela CCAPA para o Morro da Urca. O cume da montanha se veria transformado em uma mistura de shopping center com parque de diversões” (retirado do texto sobre o novo projeto). Desculpe, mas lá não é local de shopping nem parque de diversões: é um mirante, e o aspecto natural do morro deveria ser minimamente respeitado. Creio que a ideia da tirolesa seja ótima e vá alavancar o turismo na cidade, porém há que se pensar em um lugar que se adapte a essa proposta; aí, sim, a ideia será mais do que bem-vinda. Mais adiante, vou dar uma olhada na topografia e fazer sugestões de locais.
Cláudio Prado de Mello é arqueólogo e presidente do Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica do Rio (IPHARJ).