Antes de descobrir a “Comunicação Não Violenta” (CNV), criada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, eu não sabia como me comunicar e me posicionar de maneira assertiva, de forma a ser ouvida, compreendida e respeitada. Eu costumava engolir muitos sapos para agradar, não desagradar e evitar os conflitos a qualquer custo. Quando o copo estava cheio, explodia e consequentemente me desgastava.
Tive contato com a CNV, pela primeira vez, quando eu ainda morava na França, em 2006; eu tinha 28 anos. Trabalhava em uma multinacional como auditora e viajava pelo mundo para auditar as filiais da empresa. À época, meu chefe achou que eu podia me beneficiar ao participar de uma formação para “me conhecer melhor, conhecer melhor os outros, e assim, aprimorar meus relacionamentos”.
Essa formação foi de fato, um divisor de águas na minha vida. Foi meu primeiro contato com a área de desenvolvimento humano. Foram cinco dias de formação, em que aumentei meu autoconhecimento e meu conhecimento. Em nenhum momento, mencionaram a CNV, mas, no fundo, todo o conteúdo era embasado nos seus conceitos.
Pela primeira vez, tive maior consciência de algumas necessidades humanas, como “inclusão, “justiça”, “reconhecimento”, “empatia”, etc. Eu já tinha estudado sobre a pirâmide de Maslow e as necessidades humanas na Faculdade de Administração, mas a abordagem era relativamente superficial.
Segundo o Marshall Rosenberg, tudo que o ser humano faz tem por objetivo satisfazer as suas necessidades, de forma consciente ou inconsciente. Ou seja, todo comportamento é uma tentativa de satisfazer uma ou várias necessidades humanas.
Aliás, gostaria de convidá-lo a fazer um pequeno exercício de autorreflexão extremamente simples e poderoso, aqui, agora. Topa?
São apenas 2 perguntas:
1. Neste exato momento, enquanto você está lendo esse artigo, como está se sentido? Curioso(a)? Atento(a)?Interessado(a)? Ansioso(a)? Respire, desacelere e tente identificar seu sentimento predominante.
2. Que necessidade(s) você acha que busca satisfazer ao ler este artigo? Aprendizado? Conhecimento? Autoconfiança? Crescimento?
Aprender a identificar e nomear emoções, sentimentos e necessidades humanas é a base para desenvolver a inteligência emocional. Sem isso, não há consciência e, sem consciência, não é possível aprimorar a maneira como pensamos, agimos e nos comportamos.
Esse conhecimento me trouxe muito “poder” sobre mim mesma. Aprendi a me conhecer melhor; de fato, a agir de forma cada vez mais consciente, de acordo com os meus valores e as minhas necessidades, sem desrespeitar os valores e as necessidades dos outros.
A chave para relacionamentos saudáveis e harmoniosos está no respeito e na compreensão mútua de sentimentos e necessidades humanas. O verdadeiro poder está no equilíbrio, na consciência, na compreensão e no respeito às necessidades de todos.
No entanto, é importante saber que existem indivíduos que já nascem com uma estrutura cerebral em que a empatia emocional é extremamente reduzida, ou até inexistente. É o caso dos psicopatas, por exemplo. Essas pessoas não sentem nenhuma compaixão pelo sofrimento alheio, mas são capazes de fingir. Pior, têm prazer em ver alguém sofrer e, até onde sabemos, não têm capacidade de mudar. Não conseguem sentir remorso, culpa ou arrependimento, porém são capazes de dizer que se arrependem para manipular. Somente esses sentimentos são capazes de levar um indivíduo a rever seus comportamentos para não causar mais sofrimento nas pessoas. Nesse caso, o afastamento é a única solução.
Outros indivíduos podem ter desenvolvido algum transtorno e/ou ter a sua capacidade de empatia prejudicada em função do ambiente, do seu histórico familiar, das experiências vividas ao longo da infância e da adolescência. Nesses casos, os relacionamentos serão certamente conturbados também.
Caso estiver sofrendo em algum relacionamento, não tente mudar o outro – não temos controle sobre o outro, isso é mera ilusão. Ao invés disso, busque aumentar seu conhecimento e autoconhecimento para gerar uma transformação no seu ambiente e influenciar positivamente seus relacionamentos. Seja exemplo primeiro!
Boa semana!
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