Os convidados chegavam à individual “Absoluto Falho”, de Nelly Gutmacher, nessa terça (14/03) e, logo de cara, ganhavam um adesivo com vulvas coloridas, da série “Like a Virgin” (1980), na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. Todos amavam e colocavam a “xoxota” pra jogo na roupa. O tema é recorrente na obra de Nelly: “Nasci em 1941, na Segunda Guerra Mundial. Sou filha de imigrantes judeus, e minha família era repressora. Meus pais não me deixaram cursar Belas Artes porque era “coisa de puta”. As vulvas apareceram no meu trabalho logo no início. O corpo de ontem era um tabu; hoje, mostrar uma vulva é quase como mostrar uma boca”, diz ela.
A curadoria é de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto e mostra um recorte da carreira em quatro séries que ocupam o segundo andar da casa, tendo como tema principal o questionamento de gênero. “Tive uma formação junguiana, estudando mitos, arquétipos e simbolismos. Foi quando nasceram os ‘hermafroditas’ (1980), que são seres com os dois sexos. Lá atrás, eu já afirmava que, num futuro não distante, todos seríamos hermafroditas. Só agora eles estão fazendo sucesso.
Além de “Like a Virgin”, estão na mostra vaginas em diferentes formatos e cores, a recente série “Tálassa” (2022-2023), uma mistura de instalação e esculturas em cerâmica e resina, segundo ela, “seres andróginos e multigêneros que surgem da lama do fundo do oceano”; colagens que produziu desde a década de 70; a série “Hermafroditas”, pequenas esculturas em porcelana, bronze e metal, todas com “pingolim”; e “Fragmentos”, a série em que ela moldava seu próprio corpo.