Yemanjá nunca atendeu a uma prece minha. Zero. Portanto, posso dizer que ela é o meu São Jorge de saias ou — melhor — de cauda de sereia. Ainda assim, sou devoto de ambos.
Tem as pessoas que creem piamente na Mãe d’Água e em outros orixás por motivos respeitáveis, por sincretismo religioso. Não é meu caso. Ateu apostólico mundano, eu gosto mesmo é do que a cerca.
Por exemplo, Yemanjá está onipresente nas obras de, entre outros monstros sagrados, Caymmi, Vinicius, Baden Powell, Paulo César Pinheiro. A mais bela canção (para mim) sobre ela é o samba que o Império Serrano levou para a avenida em 1978, de Vicente Matos, Dinoel e Arlindo Veloso. Quem? Simplesmente os autores dos versos “Ela mora no mar, Ela brinca na areia, No balanço das ondas, A paz, ela semeia”.
Dos muitos intérpretes que a cantaram, como não mimetiza-lá na maravilhosa Clara Nunes, a sua definitiva personificação?
Isso já bastaria para merecer minha devoção, mas ainda tem as festas em sua homenagem. São as mais legais. Sempre no verão, parecem um luau, tomando praias, lagoas, rios e, para os paulistanos, piscinas e jacuzzis, pois no Tietê não dá.
E tem a mulherada, né? Como tem devota a nossa Yemanjá! Rumam em bando para a orla, todas de azul e branco, trabalhadas no biquíni, na canga, no turbante, nas miçangas, no escambau, e cheirando a lavanda e jasmim, os aromas prediletos da divindade.
É lindo demais, é top, é mara, é priceless as meninas dançando descalças com os bracinhos no modo Gil/Caetano, meio empurra-e-puxa. Eu fico hipnotizado. Quase em transe.
Eu tô aqui na minha meditação vespertina na pedra do Arpoador me preparando para amanhã e escrevi tudo isso porque acabei de ter um insight: a padroeira das águas implorando para não jogarem no seu habitat nenhuma oferenda. Nem joias da Mônica Pondé, esmalte Monange, eau termale da Avène e milho de pipoca Yoqui. Já bastam as flores, que ela diz achar super sem graça, mas que pelo menos a maré alta devolve e dão menos trabalho aos super-garis da Comlurb.
Então fica a dica que vem direto dos Orixás para esse 2 de fevereiro: molhe os pés na água, faça um desejo (eu vou estar por perto) com muita energia positiva e apenas saúde a Rainha com um Odò Ìyá!
Quem sabe o seu sonho não se realiza?
Helinho Saboya é advogado.