Venho de uma família empreendedora. Meu pai cursou apenas o Ensino Fundamental e começou a trabalhar aos 9 anos de idade como entregador do que era chamado “Secos e Molhados”, os atuais mercadinhos de bairro. A veia dele empreendedora sempre falou mais alto e lançou vários negócios, como cerâmicas, moagem de ostras e outros negócios.
Já minha mãe vem de uma família que tinha lojas de tecidos em Araruama (cidade do interior do Rio); depois, mesmo sendo dona de casa, vendia de tudo para complementar a renda familiar. Eu, seguindo uma tendência de minha geração, queria ter um emprego em uma multinacional. E foi assim. Trabalhei por 14 anos na HP, depois cinco anos na Microsoft, até que me vi impactada pela realidade social do Brasil e questionei o direcionamento da minha carreira.
Em 2007, aos 38 anos, resolvi deixar o mercado corporativo e fundar o Instituto Ekloos, uma organização sem fins lucrativos. Não tinha consciência de que ali estava começando uma carreira como empreendedora. E o mais difícil: uma carreira empreendedora na área social.
Não foi fácil! Embora tendo feito um bom plano de negócios antes de começar, de 2007 a 2014 o dinheiro só saía do bolso. Somente em 2014, fechamos nossa primeira grande parceria; a partir daí, a Ekloos foi tendo uma estrutura financeira mais estável.
Não queria parar por aí. Mesmo sabendo da dificuldade de empreender, ter apenas uma organização sem fins lucrativos, totalmente dependente de doações, não seria fácil. Por isso, desde 2007, já tínhamos produtos e serviços para serem comercializados. Sem grana para investir, o crescimento teria que ser orgânico. E assim foi. Vendíamos sites, gestão de redes sociais e tudo ligado à comunicação de ONGs, institutos e fundações.
O negócio cresceu. Em 2019, criamos a Agência Kio, um negócio de impacto social. De lá para cá, chegamos a 30 clientes, com modelos de assinatura, proporcionando às organizações, com viés social, uma equipe de comunicação e marketing disponível para a produção de conteúdos profissionais. Já alcançamos um faturamento de R$ 1 milhão/ano.
Vamos parar por aqui? Não dá! Quando nos entendemos como empreendedores, a cabeça funciona 24 horas por dia, com novas ideias que ficam martelando até saírem do papel. Já em 2013, a experiência com tecnologia foi decisiva para desenvolvermos o primeiro sistema de gestão para ONGs do mercado brasileiro.
Fomos pioneiros e, com isso, lançamos o ONGFácil, que hoje está com 3.575 organizações inscritas. Em 2016, a pedido da empresa Invepar, desenvolvemos um sistema para gestão de editais e medição de impacto das estratégias de ESG.
Tudo isso ficava dentro do Instituto Ekloos, com vendas muito reativas. Agora, chegou o momento de lançar um novo negócio social que promete revolucionar o mercado de tecnologia para ESG. Chega a Bliks!
Minha nova empresa já nasce com mais de 3 mil clientes e com faturamento de R$ 500 mil em 2021! E vem muito mais por aí! O setor de impacto merece ter soluções tecnológicas para possibilitar melhorias na gestão, medição de impacto e transparência. Já lançamos o ONGFácil, CRMFácil e o ESGFácil e, em breve, chegarão mais lançamentos!
Ser mulher no mercado corporativo de tecnologia era um grande desafio — sempre gerenciei uma maioria de homens. Ser mulher empreendedora no Brasil é um desafio ainda maior! A Pipe Social 2019 mostrou que 66% dos líderes de negócios de impacto no Brasil são homens. Estou aqui para ajudar a mudar essa realidade.
Nós, mulheres, precisamos nos destacar como empreendedoras, apesar de todas as dificuldades, apesar de nos acharem com pensamentos menos estratégicos ou menos capazes de alcançarmos resultados.
Não estou sozinha: posso citar muitas outras mulheres empreendedoras que estão na luta para ganhar visibilidade e esse setor ter mais representatividade!
Foto: Agência KIO
Andrea Gomides é formada em Processamento de Dados pela PUC-Rio. Trabalhou como executiva em empresas de tecnologia por duas décadas, sempre exercendo paralelamente o trabalho voluntário. Há 15 anos, trocou de lado e fundou o Instituto Ekloos – uma organização sem fins lucrativos que ajuda o desenvolvimento de projetos nas áreas da educação e da cultura. A ONG tornou-se a maior aceleradora social do País, já capacitou mais de 6 mil empreendedores e acelerou mais de 600 ONGs e negócios de impacto social.