Todo mundo pensa que o maior perigo do mar, rios, lagos e piscinas é a parte mais funda, onde, muitas vezes, a correnteza é mais forte, e você não consegue colocar o pé no chão, tendo que nadar muito para não ser levado pelas águas. Realmente, o perigo existe, e é sempre bom tomar cuidado, principalmente com as crianças. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o afogamento é uma das principais causas de mortalidade infantil. A Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático estima que mais de 90% dos casos de afogamento acontecem porque não se levam em consideração o perigo e as regras básicas de segurança; no entanto, o que muitos não sabem é que esse perigo também acontece em águas rasas. Aqui, no consultório, nesta época do ano, é comum aumentarem os casos de lesões na coluna vertebral em consequência de mergulhos em águas rasas. Principalmente agora, no verão, período das férias escolares – quando clubes, parques aquáticos, lagoas, rios e cachoeiras são os destinos preferidos de muitas pessoas -, crianças e adultos, após um longo período de isolamento social, querem aproveitar uma das estações mais esperadas do ano.
Segundo a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), o mergulho em águas rasas é a quarta maior causa de lesão na medula no Brasil. Normalmente, essas lesões, principalmente na coluna cervical, decorrem do desconhecimento do local do mergulho, como, por exemplo, lugares com águas escuras, onde não se consegue ver o fundo ou quando existe alguma pedra camuflada pelas águas. Também é comum adultos associarem bebidas alcoólicas com diversão em mares, rios, lagos e piscinas – o que acaba prejudicando a percepção da pessoa quando vai mergulhar. Geralmente, o álcool acaba dando uma dose extra de coragem, que não existiria em quem está sóbrio. Por isso, é muito importante estar consciente e alerta para que o momento da diversão não se torne um problema sério.
Muitos podem acreditar que a cabeça é o alvo maior quando se mergulha em águas rasas, mas o que não se leva em consideração é que a coluna cervical é a mais acometida, pois há uma transferência de energia no ato do pulo da cabeça para toda a extensão da coluna. O risco é altíssimo: podem até ocorrer fraturas nas vértebras da coluna vertebral e consequentemente na medula espinhal, que está no interior do canal medular.
E não estamos falando apenas de fraturas reparáveis ou lesões passageiras. Esses saltos podem ocasionar lesões irreparáveis, como paraplegia, quando o paciente não consegue mais movimentar ou sentir as pernas, ou tetraplegia, quando lesões atingem a medula espinhal em nível cervical, causando perda dos movimentos do tronco, pernas e braços. Como se vê, o problema pode ser grave; daí a importância de prevenir e informar a população, para reduzir os casos de lesões nesta época do ano. Cuide-se e curta o verão!
Roberto Oberg é neurocirurgião, especializado em crânio e coluna vertebral. Fez Fellowship na Universidade Federal de São Paulo e na Universidade de Dresden, Alemanha. Atualmente atende em seu consultório, na Clínica São Vicente, na Gávea.