Chegou ao fim um ano de eventos marcantes, como Copa do Mundo, eleições e guerra. No Brasil, o ano começa com troca de governo e muita expectativa. Entre os principais orixás regentes deste ano, estão Oxaguian e Oxum, com algum resquício de Exu, que esteve em toda a agitação de 2022. Nas religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, os orixás são divindades masculinas e femininas, mais de 400 (Ogun, Omulu, Xapanã ou Abaluaiê, Xangô, Yasan, Oxossi, Nanan, Yemanjá, Oxum, Oxunmarê, Ossain, Oxalá etc.).
Oxaguian e Oxum potencializam o grande trabalho pela organização. Oxaguian é uma grande liderança, jovem guerreiro da família de Obatalá (Orixá do branco e da energia criadora). Em suas histórias de passagens aqui na Terra, guerreou incansavelmente para prover a paz, a justiça e a libertação dos povos. Astuto, grande estrategista e destemido, sempre entra em batalhas para vencer — provendo a quem tinha fome e até mesmo tirando dos que tinham muito e não tinham fome. Sua regência traz o dinamismo, a inovação, liderança, anseios por mudança.
Oxum é o orixá que rege a água, a riqueza, o amor e o cuidado com as crianças. Está ligado ao poder de gestar, orixá da diplomacia, da vaidade, do belo. Oxum representa o empoderamento feminino, orixá do autocuidado, que transcende a luz à sua volta, o cuidar de si para que estejamos prontos a cuidar do próximo. Orixá cuida do mais jovem ao mais idoso como se fossem suas crianças. Oxum é Iyalode (título que marca a característica de liderança de Oxum). Influencia as mulheres a conquistarem seus espaços na esfera social.
Essa conjunção de influências marca muitas mudanças, podendo conflagrar conflitos, só não sendo pior por conta da capacidade diplomática de Oxum, o que nos avisa que cada vez mais devemos apoiar as iniciativas das mulheres; inclusive, as últimas previsões de passagem de ano em Ile Ifé, na Nigéria, nos confirmam que precisaremos muito da energia do feminino para as mudanças que necessitamos para ter equilíbrio no Planeta, um grande anseio por um caminho mais justo. Essa conjunção que pode continuar propiciando muitas chuvas, sendo Oxum a água e Oxaguian, o ar.
Para obter as bênçãos, será preciso avaliar muito bem a conduta em prática, pois são dois orixás que não permitem mentiras e desonestidades. E agradar às mulheres, principalmente as mães, para que o espírito delas possam apoiar em bênçãos e proteção, além de ter retidão, perseverança e firmeza de caráter.
O babalaô Ivanir dos Santos é professor do Programa de pós-graduação em História Comparada da UFRJ, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e fundador do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP).