Muitos moradores da Barra procuraram a coluna sobre uma obra monumental na praia do Pepê, que tem chamado atenção nos últimos meses. As reclamações da associação de moradores é antiga sobre vários assuntos, como perturbação do sossego, invasão em áreas de proteção ambiental e, atualmente direcionada a uma guarderia de pranchas que ficava nas areias da praia do Pepê, mas, por estar em área de reserva da Marinha, teve que sair dali, num processo que durou anos na Justiça. Com isso, a guarderia — da Associação Brasileira de Windsurf — mudou de lugar e começou a fazer obras em agosto, o que tem chamado muita atenção de todos e da imprensa pelas escavadeiras gigantes cavando buracos dia e noite, para concretar e construir uma grande infraestrutura com subsolo para os sócios, até com tabela já divulgada por eles (nas imagens das plantas e tabelas).
Outro fato que tem tirado o sossego dos moradores: a área é casa das corujas-buraqueiras, que fazem seus ninhos na areia. Com a retirada de coqueiros, elas pousam nos postes das obras e ficam sem uma direção, ou até perdem os filhotes.
Uma moradora, que prefere não se identificar (“porque ficamos vulneráveis, já que a Barra é dominada por milicianos”), inúmeras intervenções foram feitas na vegetação nativa e em território de proteção ambiental da orla, “desviando a população da passagem pelos quiosques, eles foram modificados para virar verdadeiros beach clubes, com fechamento de área pública, obras de alvenaria em solo e subsolo, destruição de fauna e flora nativa e muita perturbação ao sossego, com festas e raves patrocinadas por marcas de cerveja, com DJs e alto-falantes acima do permitido”.
Outro morador completa: “Sem aprofundar na grave deterioração de nossas praias, os quiosques fecham áreas públicas com muros e cercas controladas por seguranças, e o som inferniza frequentadores, tanto na Barra quanto na Zona Sul”.
Os moradores fizeram denúncia ao Ministério Público Federal, ao Ibama e à Prefeitura, mas não conseguiram frear a obra. E também acreditavam que a construção teria alguma coisa a ver com a Orla Rio, administradora de 309 quiosques do Leme ao Pontal. Procurada, a Orla disse não ter nenhuma relação: “Sobre quaisquer irregularidades encontradas nos mais de 300 quiosques que fazem parte da concessão, a Orla Rio reforça que faz um trabalho firme de fiscalização e sempre toma as devidas providências quando algo é identificado. Como a Orla Rio não tem poder de polícia, as medidas legais são tomadas e, em casos extremos, há demanda judicial para reintegração de posse”.
Também nos contatamos com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima, que enviou o seguinte esclarecimento: “A proposta da transferência da guarderia teve o ‘nada a opor’ da Prefeitura, levando em conta o interesse do estabelecimento em questão na manutenção e preservação da vegetação no entorno e o parecer favorável da Advocacia-Geral da União (AGU) quanto à cessão do uso da área do subsolo para a instalação da guarderia. A obra poderia ocorrer desde que fossem observadas as determinações legais, bem como as diretrizes dos demais órgãos competentes. A SMAC estabeleceu condicionantes ambientais, que estão sendo devidamente acompanhadas pelo corpo técnico. As questões relacionadas à fauna, flora e ao transplantio foram observadas, além de um engenheiro florestal estar orientando sobre o replantio dos coqueiros e da grama. Informa, ainda, que o ninho das corujas que existia na região não foi afetado em nenhum momento pela obra”.
A Secretaria de Conservação também se manifestou, dizendo que “se trata de uma obra particular e, por ser em via pública, é fiscalizada pela equipe da Seconserva. Vale ressaltar que a licença para esse tipo de intervenção é autorizada pelos órgãos de tutela”.