Auntie Viv (tia Viv), como a imprensa britânica gostava de chamá-la, foi a rainha rebelde da moda. Já dizia ao que vinha quando abriu a boutique SEX, na Kings Road, em Londres, no começo dos 1970. Confirmou sua visão de estilo – provocadora, irreverente, excentricamente malcriada ao vestir os rapazes do Sex Pistols, a banda empresariada pelo seu então marido, o talentoso oportunista Malcolm McLaren. O resto é história. Misturou a estética feia, suja e malvada do punk com clássicos britânicos, como o tartan escocês, o dandismo e os símbolos reais. Queen Victoria meets Beau Brummel meets Mr. Hyde meets Saville Row meets rock’n’roll. Desconstruiu, subverteu e ressignificou símbolos, regras e épocas para fazer sua própria estética. Sua arte – ou como diz minha amiga Regina Guerreiro “chamo a obra dela de ‘Coisa de Artista’”.
Paris aprovou a transgressão à la mode e a incluiu na Semana do Prêt-à-Porter. Ela também influenciou os jovens rebeldes britânicos que vieram a seguir, John Galliano e Alexander McQueen.
No início dos anos 1990 Vivienne foi considerada o estilista mais influente da moda internacional.
Foi quando vi de perto e usei uma criação sua: uma camisa de seda com estampa sacra, mezzo Renascentista mezzo profana. Um caminho que levou a abotoaduras com o logo da marca, calças de lã azul marinho de cintura alta, uma imaculada camisa branca de colarinho pontudo e punhos dramáticos. Vestir Vivienne Westwood era estar pronto para um drama, uma comédia ou uma conversation piece.
Quando ficou rica e mais famosa, Viv foi para o Lado B, tornando-se uma ferrenha crítica ao consumismo desenfreado alimentado pela moda e uma ativista da responsabilidade social e ambiental na indústria fashion. “O que estou fazendo agora ainda é punk… ainda tem a ver com gritar a respeito da injustiça e fazer as pessoas pensarem, mesmo que seja desconfortável. Sempre serei punk nesse sentido”, declarou mulher que colocou o P de Punk na Moda. Invocada até o fim.
Ultimamente vinha desenvolvendo projetos artísticos e delegou a criação para o marido, o austríaco Andreas Kronthaler – 25 anos mais novo e que deve assumir a direção de estilo da marca.
Encontrei rapidamente com auntie Viv em suas duas visitas a São Paulo e, certa vez, aguardando a entrada em seu desfile na London Fashion Week, em 1997, me vi no salão de chá do hotel Dorchester, ao lado de alguns de seus amigos de rock’n’roll: Mick Jagger & Jerry Hall, Anita Pallenberg, Iman &… David Bowie. Eu era o único ali de quem nunca tinha ouvido falar. Mas isto é história para outra ocasião.
Agora vale dizer que enquanto houver uma camiseta branca rasgada, encardida, insolente, auntie Viv lives!
All hail The Queen!
Mário Mendes é jornalista, paulistano e ama o Rio. Passou pela Interview (duas vezes), Folha de S. Paulo, Vogue, IstoÉ, Elle, Trip e Veja.