Wagner Tiso, meu companheiraço, está comemorando 60 anos de carreira e, para celebrar, vai participar do projeto: “Wagner Tiso — 60 Anos de Música”, que inclui a publicação do seu primeiro songbook instrumental, um aplicativo com as suas partituras e vai fazer um show de lançamento na Sala Cecília Meireles, no próximo dia 22. Eu, claro, venho de Belo Horizonte especialmente para participar das homenagens e para tocarmos juntos. E o que dizer dele?
Wagner, meu companheiro de “peladas”: jogávamos no Caxinguelê, um campo de futebol de terra batida que ficava no bairro Horto, na Gávea, onde toda quarta-feira a gente ia bater uma bola. Juntavam muitos músicos e alguns jogadores profissionais também, que vinham de vez em quando jogar com a gente. Saíamos dali para ver o pôr do sol no Arpoador, ainda de calção, sentindo as alegrias de uma boa partida e do encontro com as galeras do som e da bola.
O álbum Clube da Esquina foi um momento superimportante, que realmente nos deu muita interligação de espírito e de música porque a gente era muito ligado, mas cada um com a sua influência determinada. Tinha uns roqueiros, como o Lô Borges e o Beto Guedes; já o saxofonista Nivaldo Ornelas e eu éramos mais de jazz. O Wagner era mais clássico, mas também adorava rock, o rock progressivo. O Milton Nascimento, o Bituca, com aqueles canais de viagens sem fim (eeeieieeeieieei….). E quando me refiro às influências do Milton, quero dizer das lembranças dos cantadores da cultura popular, afro-negro e religiosos, da herança do Barroco, misturado aí com um pouco do folclore, com moda de viola, com um pouco de canto gregoriano. O Bituca, naqueles canaviais sem fim (das usinas de açúcar do sul de Minas)…
E o Wagner sempre atuava como o instrumentista; ele era o organizador da parada. E todos os encontros em que eu estava com o Milton, o Wagner estava junto também. E eu os encontrava sempre juntos nas noitadas de Belo Horizonte, nas horas dançantes e nos bailes da vida. Virei logo amigo e parceiro do Bituca. O Wagner tinha muita informação e virou aquela referência, daquela pessoa com mais conhecimento. A mãe dele era professora de piano, e ele vinha de uma família de músicos da cidade de Alfenas, em Minas Gerais (posteriormente eles se radicaram na vizinha Três Pontas). E eu sempre gostei do clássico. E também eu gostava muito quando ele harmonizava e ia oitavando assim os acordes e preenchendo bem o piano. Ele não tocava só uma região, usava o piano todo. E já, nessa época, ele era bem orquestral, só ele tocando. E o Wagner sempre foi aquele cara que a gente sempre dizia: “o Wagner tem que gostar, ele tem que aprovar, tem que dar o aval, o Wagner é que sabe das coisas”. Depois, ele sempre vinha fazer aquelas orquestrações lindas e, como se fosse um Portinari, só dava aquele toque final naquela pintura. E isso foi para mim uma escola musical de vida muito grande.
Wagner, meu amigo, forte abraço, tudo de bom aí! Deus te abençoe, te dê muita saúde, muita sorte, muita proteção, muita harmonia, tudo que você merece. Te amo demais. E dia 22, querido, estou aí, para tocarmos juntos.
Toninho Horta é guitarrista, arranjador e compositor. Vencedor do Grammy Latino de 2020 (no auge da pandemia, talvez com pouca repercussão). É um dos fundadores do famoso Clube da Esquina, movimento musical mineiro, que está comemorando 50 anos do lançamento do LP homônimo.