Eles não eram gêmeos xifópagos, que vivem ligados um ao outro; amigos inseparáveis, sim. Como o Tremendão disse em uma entrevista, “bicho, não me meto na vida do Roberto, nem ele, na minha, por isso, a gente é amigo há tanto tempo”, como o Mick Jagger e o Keith Richards. Eles se reúnem, fazem o show, nenhum se mete na vida do outro.
Ao contrário da pasteurização siamesa das duplas sertanejas, eles souberam distinguir perfeitamente o que interpretar juntos ou separados. Algo, literalmente, de berço.
Roberto cantava…
“Tenho às vezes vontade de ser
Novamente um menino,
E na hora do meu desespero
Gritar por você,
Te pedir que me abrace
E me leve de volta pra casa” (Lady Laura)
Já Erasmo declamava à dona Diva:
“Ei, mãe,
Não sou mais menino.
Não é justo que também queira parir meu destino.
Você já fez a sua parte,
Me pondo no mundo
Que agora é meu dono, mãe.
E nos seus planos, não está você.” (Filho Único)
Perceberam?
O mesmo quanto à superstição, às manias. Assim como o Tremendão jamais se apresentaria de blazer azul-pavão e calça tergal branca, RC não subiria ao palco de jaqueta de couro preta e black jeans.
Aliás, a liberdade de credo sempre foi sagrada (opa!) para ambos. Querem ver? Enquanto o Rei pregava “Jesus Cristo eu estou aqui”, Erasmo não estava nem aí: Jornalista: “Você é religioso?” Erasmo: “Não, bicho, não sou chegado, não. Inclusive, nos shows, me dão muita medalhinha de Nossa Senhora. Se eu tivesse uma barraca de escapulário na praia, tava rico”.
Mais que um vasto repertório, a dupla, desfeita pelo inexorável destino, nos deixa uma formidável lição de como nascem os amigos de fé, os “irmãos camaradas”. E um oportuníssimo exemplo de como mantê-los nessa jornada e para “além do horizonte”.
Helinho Saboya é advogado.