Figurinha carimbada no cenário político nacional ao longo de décadas — quando foi protagonista dos mais diversos governos arregimentando votos junto a bancadas mais preocupadas com a obtenção de ganhos pessoais do que com linhas ideológicas —, o ex-deputado Roberto Jefferson voltou a frequentar as páginas policiais dos nossos noticiários.
Depois de ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal por ter participado ativamente do escândalo do Mensalão, o ex-parlamentar foi novamente denunciado perante a Corte Suprema, desta vez acusado de fomentar uma violenta campanha contra as instituições democráticas de nosso país.
Diante de sua reiterada conduta criminosa, o polêmico — para dizer o mínimo — político teve a sua prisão preventiva decretada como forma de proteger a investigação e garantir que a lei penal pudesse ser devidamente aplicada em caso de futura condenação.
Com o desenrolar do processo, o Supremo Tribunal Federal entendeu não ser mais imprescindível para os fins legais a manutenção da prisão preventiva do ex-deputado, permitindo, pelo suposto estado de saúde delicado, responder à acusação recolhido em sua casa, cumprindo prisão domiciliar.
Como, entretanto, o ex-parlamentar descumpriu seguidamente as restrições impostas na decisão judicial que lhe concedeu o direito à prisão domiciliar, chegando ao absurdo de usar as redes sociais de sua filha para ofender com termos de baixíssimo calão a Ministra do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia — em ato afrontoso não apenas à magistrada, mas às instituições —, o referido acusado teve a sua prisão preventiva novamente decretada.
Entretanto, com a chegada dos policiais federais em sua residência para o cumprimento do mandado de prisão, o ex-deputado, em atitude inteiramente afrontosa, disparou diversas vezes contra a equipe e arremessou granadas na direção dos agentes da lei, ferindo dois deles. Além disso, o réu veiculou vídeo no qual procurou se apresentar como um líder que estaria se sacrificando em nome da liberdade de expressão e contra a tirania do Poder Judiciário.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, o que o Presidente da República — que sempre afirmou proteger e valorizar a polícia — fez?
Em iniciativa inteiramente anômala, determinou que o Ministro da Justiça se dirigisse ao local para acompanhar a ação da PF, que, àquele momento, tentava negociar a rendição do acusado.
Tendo em vista que o ex-deputado resistia de forma violenta à prisão, chegando a atentar de dentro de sua casa, localizada em condomínio de luxo, contra a vida de dois policiais federais, dois questionamentos imediatamente surgiram: será que se a ação policial tivesse como alvo pessoas com perfil diferente do acusado — que se apresenta como amigo pessoal do Presidente da República —, o Ministro da Justiça seria enviado ao local?
Será que se o alvo da operação fosse alguém pobre, morador de uma comunidade, a polícia deixaria de revidar os ataques?
Mas o pior ainda estava por vir.
Depois de várias horas de espera — período em que o local não foi preservado, correligionários do ex-deputado agrediram jornalistas e um suposto padre assumiu a frente das negociações — um agente de polícia federal entrou no imóvel do réu.
Em uma negociação gravada em vídeo e já disponibilizada ao público, o que se vê é uma animada conversa entre aquele que acabara de tentar matar policiais federais e um agente da corporação, o qual chegou até mesmo a chamar seus colegas de burocratas, desacostumados que estariam com esse tipo de operação.
Finalmente, após um dia inteiro de absurdos em sequência, o ex-parlamentar se entregou.
Dessa situação burlesca, diversas indagações se mostram cabíveis:
— Como irá a classe policial reagir à decisão do Presidente da República de enviar o Ministro da Justiça ao local?
— Como irá a classe policial reagir à negociação feita em clima de churrasco, na qual um agente chega a ridicularizar colegas que haviam sido alvejados pelo criminoso?
— E o principal: como irá a sociedade reagir a esse ataque violentíssimo ao Estado Democrático de Direito?
A ver.