A emoção da família Buarque de Hollanda transparecia em cada segundo da pré-estreia de “Miúcha, a voz da Bossa Nova”, produção franco-brasileira com os diretores Daniel Zarvos e Liliane Mutti, no Cine Odeon, pelo Festival do Rio, nessa quarta (12/10). A história acompanha Heloísa Maria Buarque de Hollanda (1937-2018), Miúcha, desde que tinha 26 anos, quando se casa com João Gilberto. Os 10 anos de casamento, entre idas e vindas, são contados em imagens nunca vistas na película 16mm da festa do casamento, por exemplo.
A produção retrata a luta de uma mulher para conquistar o sonho de ser artista e que precisa enfrentar os obstáculos de uma sociedade machista – era casada com o chamado “gênio da Bossa Nova” e rodeada por “grandes homens”: neta de Cristóvão Buarque de Hollanda (farmacêutico e professor) filha de Sérgio Buarque de Hollanda (sociólogo e escritor), irmã de Chico Buarque, pupila de Vinicius de Moraes, parceira de Tom Jobim, ela ainda cantava acompanhada pelo sax de Stan Getz e dividiria o palco com Pablo Milanês, em Cuba. “A ideia é manter a Miúcha viva e, através dela, cada mulher que sonhou em ser artista pode se reconhecer, pois o lugar da mulher na sociedade ainda hoje não é o mesmo lugar de privilégio dos homens”, diz Liliane.
As cenas se passam em Nova York, Paris, México e Rio, com imagens de arquivo, cartas, diários e fitas cassetes. O doc tem narração da própria Miúcha, intercalada com a voz da sobrinha, a atriz Sílvia Buarque, que estudou muito a entonação da tia a partir de áudios que ela tem guardados no celular.
Os autores definem Miúcha como “a antimusa da Bossa Nova: oito cigarros de maconha na boca e um riso de ponta a ponta”. No fim, foram distribuídas pulseirinhas amarelas para continuar o encontro no Amarelinho da Cinelândia.