Sempre digo que construir pontes nunca é uma tarefa fácil. Ao nascer, recebemos dois presentes divinos: a vida e o livre-arbítrio. O que é feito de ambos nem sempre é a melhor escolha, mas o exercício de respeitar as escolhas das pessoas, seja na política, no futebol e na religião, sempre foi uma meta para mim. As pessoas, muitas vezes, não entendem, mas são justamente as nossas diferenças que nos unem, pois é nas estradas onde tudo se cruza que nós também nos encontramos e precisamos uns dos outros. Depois de 11 anos trabalhando à frente do Instituto Expo Religião, que começou como uma feira mística, decidi, com a minha equipe, realizar algo maior do que um seminário este ano.
Por isso, nasce agora, às vésperas da eleição, o 1º Congresso Inter-religioso Internacional — a hora não poderia ser mais urgente. Diante do número assustador de casos de intolerância e racismo de que tomamos conhecimento todos dias e da banalização dos discursos de ódio, precisa haver um caminho para nos pacificarmos. E não se restringem somente à depredação, mas também a humilhações, agressão e perda do espaço religioso e moradia. Muitas vezes, ao denunciar essa violência, as consequências são terríveis. Mas é preciso lutar.
Hoje, no Brasil, a religião de Matrizes é a que tem o maior número de denúncias, mas outras também já seguem bem de perto. O ser intolerante, por princípio, é contra tudo aquilo que contraria sua forma de pensar. Sabe aquele ditado “o inferno são os outros”? Pois é. Sendo assim, eles não têm um alvo específico, e vira uma selvageria. No entanto, temos o lado positivo. Em paralelo, cresceu e muito o número de pessoas que decidiram expor sua religião, inclusive um grande número de artistas. A nossa caminhada ainda é muito longa, mas começa a ser construída com momentos de vitórias.
Imagina a glória que é juntar um muçulmano, um judeu, um evangélico e um espírita, entre outros? Vamos ter Lama Rinchen Khyenrab, representante do Budismo Tibetano e discípulo do Dalai Lama; Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio; o muçulmano xiita Carlos Menezes, responsável pelo diálogo inter-religioso da religião islâmica; o cacique Carlos Tukano, presidente do Conselho Estadual do Direito do Índio; o judeu Paulo Maltz, da Federação Israelita do Rio (Fierj); e Maria do Nascimento (Mãe Meninazinha de Oxum), da religião de matrizes africanas.
É possível haver o diálogo e a coexistência dessas religiões de forma pacífica. Este ano, conseguimos reunir líderes de 23 crenças diversas. Juntos, vamos, durante três dias, discutir assuntos como Liberdade, Intolerância Religiosa e as Políticas Públicas (sexta-feira); A Presença das Religiões na Ciência e no Social (sábado), e Religiofobia na Cultura e no Social (domingo). Enquanto os técnicos, religiosos, o jurídico, professores e jornalistas, entre outros, discutem os temas, nós teremos várias palestras, sempre tendo a paz como principal objetivo. Respeite e ame o próximo como a si mesmo é um mantra que utilizamos independentemente de qualquer crença.
Luzia Lacerda é jornalista, está à frente do 1º Congresso Inter-religioso Internacional no Hotel Prodigy, no Centro, nos dias 16, 17 e 18 de setembro, através de seu instituto, o Expo Religião. Há 11 anos, ela promove esses encontros de religiões em feiras, seminários e rodas de conversas.