Se, há alguns anos, Gregório Duvivier me dissesse que eu apoiaria o Lula no futuro, eu diria que ele enlouqueceu. Por outro lado, se eu dissesse pro Gregório que Lula seria novamente candidato, com o Alckmin de vice e apoiado pela Marina, ele diria que eu enlouqueci. O fato é que nem eu, nem ele, nem Alckmin e tampouco Marina enlouquecemos. Quem enlouqueceu foi o país. O Brasil, ditado por um louco, descarrilou. Porque Jair Bolsonaro não é um lunático de devaneios ou ausências. Jair Bolsonaro é sádico, perverso, inconsequente. Derrotar Bolsonaro de forma categórica não é para evitar falsas alegações de fraude que respingariam em deputados e senadores. Convenhamos: quem acredita em mamadeira de piroca, Terra plana e integralista fantasiado de padre acredita em qualquer teoria conspiratória.
Vencer o atual governo de maneira emblemática é compulsório porque expõe o desejo popular de restituir uma identidade perdida. O Brasil, que já foi sinônimo de natureza, da alegria e do Carnaval, hoje, é o país de milícia, de morte e do mal. A nação precisa de muito, mas não de um senhor de engenho. Precisa de humanidade. Não precisa da crueldade de quem nomeia uma mulher machista para mulheres, um racista para negros, incultos para a cultura, um ecocida para o meio ambiente e ignorantes para a educação.
Há algum tempo, disse publicamente que votaria em Ciro Gomes, a menos que houvesse chance de derrota de Bolsonaro no 1º turno. E há. Além disso, não pude ignorar uma campanha equivocada, de prioridades questionáveis, que expôs um comediante, meu amigo e meu sócio¹. O alvo é outro. Falo com a propriedade de quem foi vítima do primeiro atentado terrorista depois da ditadura. Foram três coquetéis molotov² que cercearam a liberdade dos meus filhos diante da negligência de Sérgio Moro. Os autores, extremistas de direita, seguem soltos. Quem me segue sabe que sempre fui crítico em relação aos governos passados. De Fernando Henrique a Temer. E nunca fiz vista grossa para os escândalos revelados durante os mandatos do PT. Mas o que está aí hoje não tem comparação. Chegamos ao fundo do poço.
O Brasil nunca foi exemplo de honestidade. O Brasil nunca foi exemplo de penitência. O Brasil nunca foi exemplo de Educação. Mas o Brasil de Bolsonaro é o pior dos maus exemplos. É um exemplo mau. Ameaça a paz, a segurança, as instituições, as minorias e a democracia. Em 1994, não votei em Lula. Em 1998, não votei em Lula. Em 2002, não votei em Lula. Em 2006, não votei em Lula. Em 2022, votarei em Lula. Afinal, quero continuar votando (ou não votando) em quem eu quiser. Espero que, se eleito, Lula encare o mandato não como um cheque em branco, mas como oportunidade de repetir acertos e evitar erros. Além, claro, de não governar só para os seus. Que seja o presidente dos seus, dos meus, de Ciro, Simone e de todos aqui. E Lula lá.
Texto replicado do Twitter do carioca Antonio Tabet, publicitário, roteirista e humorista, um dos fundadores do Porta dos Fundos. Foi considerado uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil pela revista “Isto É” e um dos 15 brasileiros mais influentes na internet pela revista “GQ”.
1 – Em peça publicitária da campanha de Ciro Gomes, ele usou as imagens de Gregório Duvivier e Adrilles Jorge como representantes de duas “seitas”, o “lulaplanismo” e “bolsoplanismo”, dizendo que os dois são parecidos e que seus eleitores se equivalem.
2 – Em 2019, o economista Eduardo Fauci foi preso por ter atirado um coquetel molotov e incendiado a sede da produtora do Porta dos Fundos no Rio. A Justiça retirou a acusação de terrorismo e a decisão mantém a prisão preventiva do acusado, mas o processo na esfera federal foi anulado e terá que ser reiniciado na Justiça no Rio.