A Amazônia resistirá ainda algum tempo, por conta exclusiva de sua dimensão, o que não justificou e não justifica o extermínio que estamos fazendo e aceitando há cinco décadas com milhares de quilômetros de biodiversidade/ano, convertidos em pastos e outros fins. Lembro, como se fosse hoje, o programa “Amaral Neto – o repórter” quase que em êxtase, mostrando a derrubada de gigantescas árvores para a abertura da tal Rodovia Transamazônica. Era a época do “milagre econômico”, com o homem dominando o “inferno verde” e levando ao “desenvolvimento” etc. e tal. Pois é, deu no que está dando.
Francamente, extrapolando para o campo religioso e diante do que presencio e denuncio no Rio de Janeiro, tenho a clara impressão de que o tal anticristo, sob a ótica cristã, já está entre nós e, mais do que isso, manda e desmanda. Como explicar tamanha aceitação desse quadro de degradação ambiental sistêmica, da destruição da biodiversidade que nem conhecemos, produto de bilhões de anos de evolução, responsável pela homeostase planetária, com reações sociais pífias diante do “apocalipse”?!!! Fala-se, fala-se, fala-se, promete-se, promete-se, promete-se, muito marketing disso e daquilo, mas, quando se parte para a ação ou para o que realmente existe de comprometimento, sai pouquíssima coisa, pois cada um vê o seu e sua “zona de conforto”. Fora dos palanques e das peças de marketing em horário nobre, o que se constata é a velha e boa degradação de sempre, na qual o que existe, nas chamadas de propaganda, não vale para a prática diária.
No entanto, de uma coisa eu tenho certeza: por trás de todo o processo de degradação, há uma engrenagem onde há muito dinheiro e delinquentes ambientais de todo quilate degradando e dando suporte para a degradação. Também tenho certeza de que a Natureza sobreviverá e continuará em seu curso, com ou sem a espécie humana e que a parcelas significativas da sociedade mundial vêm vivendo um processo claramente de “involução” intelectual promovido sabe-se lá bem por quê.
Como explicar gente se opondo à vacina, questionando o formato da Terra, aceitando a destruição dos recursos naturais, considerando normal os extremos climáticos e, mais do que isso, elegendo, eleição após eleição, representantes que estão nos conduzindo para um desastre sem precedentes local e globalmente? Talvez a explicação mais fácil seja o tal anticristo, que, em última análise, deve ter por objetivo destruir a Criação do Pai. Vai ver que é isso!
De qualquer forma, informo que, quando damos chance para os processos naturais que nos geraram, a vida renasce mesmo em ecossistemas até poucos anos atrás completamente degradados, tais como a lagoa Rodrigo de Freitas e os manguezais do entorno do aterro metropolitano de Gramacho, na Baía de Guanabara. Agora, neste exato momento, estamos recuperando as margens da lagoa do Camorim, no sofrido sistema lagunar de Jacarepaguá, onde, em oito meses, já foram removidas 123 toneladas de resíduos, cercadas 5.2 km de margens e em produção de 40.000 mudas de mangue-vermelho que serão utilizadas para replantios em 2023. Portanto, muito mais do que apenas desejar um mundo melhor, o que precisamos é pensar bem em quem iremos votar nas próximas eleições e o que podemos fazer, agir de fato, para combatermos nossa apatia diante da marcha em direção ao abismo – menos conversa e marketing e mais comprometimento e ação!
Em resumo, o que acontece com a triste e vergonhosa história ambiental da Amazônia, guardadas as respectivas proporções espaciais e temporais, é o mesmo que tem acontecido com os ecossistemas do Rio de Janeiro, onde existem toneladas de leis, muita conversa, muita peça de marketing que dura alguns míseros dias, mas onde a cultura de usar até acabar, isto é, a “cultura do pau-brasil” é o que continua imperando. Estamos em guerra com o ambiente, e cada um precisa saber de cada lado está. Eu sei o meu lado. Cabe saber até quando a omissão e a autoenganação serão as facções predominantes nessa guerra. O futuro dirá.