Quase todo artista tem uma história com Camilla Amado (1938-2021), atriz e professora de interpretação que deixou muito do que sabia na TV, no teatro e no cinema, por meio dos seus inúmeros alunos. Nessa quarta (14/09), foi dia de comemorar a artista, com a estreia do filme “As Cadeiras”, seu último trabalho, com Marco Nanini, no Estação Botafogo, para uma plateia lotada de admiradores e amigos.
É a primeira direção de Fernando Libonati, sócio de Nanini na produtora Pequena Central, há mais de 30 anos. Na primeira leitura do projeto, ainda em 2020, no início da pandemia, Camilla chegou a dizer: “Na verdade, Nando sempre nos dirigiu, mesmo como produtor, sempre esteve ali nos guiando e cuidando dos atores. Agora, só está oficializando isso.”
Eles se reuniram para gravar o espetáculo em janeiro de 2021. O tema é a incomunicabilidade: dois personagens isolados em uma ilha. Esse clássico do Teatro do Absurdo, assinado por Eugène Ionesco (1909-1994), acabou tornando-se um “teatro na tela” em que, através de recursos do audiovisual e um texto universal, a história é contada.
O projeto surgiu da vontade de continuar fazendo teatro durante a pandemia e também uma forma de comemorar a parceria profissional de Nanini e Amado, iniciada nos anos 1970, com a peça “Encontro no bar” (1973), e seguida pela montagem de “As desgraças de uma criança” (1974).
A ideia era levar a gravação ao teatro, mas, com a morte da atriz, só restou o filme, o último registro de uma carreira dedicada aos palcos — semanas antes de morrer, ela conseguiu assistir ao resultado. Fernando filmou as sequências praticamente sem cortes, com as cenas na íntegra, como no teatro. No estúdio, as duas câmeras captavam as interpretações de Nanini e Camilla em 360 graus, registrando detalhes e também a força cênica do clássico.
O trabalho ainda tem assinatura de Gringo Cardia na concepção visual, Deborah Colker na direção de movimento, figurino de Antônio Guedes e iluminação e efeitos de Júlio Parente.