Quem não tem uma história com o Jô Soares? Aqui, a do biólogo Mario Moscatelli:
“O ano era 1990. O clima estava tenso ao máximo. Eu estava com Alfredo Sirkis (ambientalista, 1950-2020), voltando de Brasília, depois de um encontro decepcionante com o então ministro do Meio Ambiente, quando vi, no aeroporto, de costas, o Jô Soares. Pensei: não tenho nada a perder, vou ver no que vai dar. Bati nas costas dele e me apresentei como sendo o biólogo que, trabalhando em Angra dos Reis, estava sendo ameaçado de morte por defender manguezais da Baía de Ilha Grande. Antes que eu continuasse, ele me interrompeu e perguntou meu nome. Quando eu disse, ele se espantou. Em seguida, ele me contou que havia acabado de ler em seu programa uma carta de uma senhora que o alertava sobre meu caso e que havia me convidado a participar no programa dele, quando passava ainda no SBT. Me deu o telefone da produtora do programa e, na semana seguinte, lá estava eu, em cadeia nacional, expondo minhas ameaças e a situação dos manguezais de Angra”.
E continua: “Na época, quem foi contratado para me matar tinha dito a conhecidos que desistiu do serviço pela amplitude que o caso havia tomado e que não era ‘nada pessoal’, apenas ‘profissional’. Felizmente, depois da matéria no programa do Jô, pude sobreviver aos delinquentes ambientais locais, bem como trazer visibilidade sobre a pouca-vergonha da degradação dos manguezais. Pode não fazer muita diferença neste momento de despedida, mas, para mim, naquele maio/ junho de 1990, minha sobrevivência foi garantida naquela guerra, e pude lutar e fazer tanto até hoje. Obrigado, Jô!”