No início do agosto, mais uma situação de banalização da violência e da própria vida tomou conta das manchetes jornalísticas: Leandro Lo, um jovem de apenas trinta e três anos de idade, atleta profissional, oito vezes campeão mundial de jiu-jitsu, foi assassinado covardemente com dois tiros na cabeça após um desentendimento ocorrido em um show realizado no estado de São Paulo.
O homicídio foi praticado por um policial militar da ativa diante de diversas testemunhas, cujas presenças não foram capazes de fazê-lo pensar duas vezes antes de disparar sua arma contra a vítima.
Embora surja agora a versão, apresentada por seu advogado, de que o policial militar somente atirou por estar cercado por vários lutadores amigos da vítima, o relato das testemunhas que presenciaram toda a dinâmica parece caminhar em sentido bem diferente.
Ao menos de acordo com o que foi veiculado nos meios de comunicação, o policial teria pego uma garrafa de bebida alcoólica que se encontrava na mesa em que a vítima estava, como um ato de flagrante provocação, o que levara a uma briga, no qual o atleta conseguira imobilizar o militar. Todavia, após ser solto pelo lutador de jiu-jitsu, o policial sacara a arma que trazia consigo e disparara duas vezes contra a sua cabeça. Ainda segundo o que veio a público, depois de atirar na vítima, o policial ainda teria ido a outra casa noturna, de onde saíra em direção a um motel acompanhado de uma mulher.
Indiciado pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil, o policial militar — que se apresenta na rede social instagram como analista comportamental — foi preso temporariamente dias após o fato.
Se, do ponto de vista jurídico, a situação não parece apresentar maior complexidade, o mesmo não se pode dizer do aspecto social. Afinal, imaginarmos que um policial militar, indivíduo treinado para proteger a população e que se diz analista comportamental, pode colocar fim à vida de um jovem de forma tão banal e sem sequer se preocupar em ser visto ou reconhecido é algo extremamente preocupante.
Afinal, se diante de dezenas de testemunhas, em um ambiente no qual tanto a vítima, quanto seus amigos, possuem condições ao menos razoáveis de acesso aos Poderes Públicos, esse policial faz o que fez, parece lógico temermos por sua conduta quando em ação em comunidades carentes, longe dos olhos de testemunhas e tendo como alvo pessoas com pouco – ou nenhum – acesso a direitos humanos básicos.
A bem da verdade, a ação do policial militar evidencia não apenas o desprezo pela vida alheia, como ainda a absoluta falta de preocupação com qualquer punição que eventualmente lhe viesse a ser aplicada pelo Poder Público.
Outro aspecto que, ao menos em nossa opinião, merece análise, é a motivação do homicídio, pois, se confirmado o relato feito pelas testemunhas, estaremos diante de um assassinato motivado pelo orgulho ferido do homicida, imobilizado que fora momentos antes pela vítima.
Essa questão parece assumir relevância ainda maior quando se tem em consideração o aumento no acesso a armas de fogo, estimulado abertamente pelo Governo Federal.
Afinal, se a vida alheia tem tão pouco valor, se um mero desentendimento é suficiente para destruir uma família, se um agente público, preparado para ser um pacificador social, é capaz de fazer o que fez, a flexibilização do acesso da população às armas de fogo pode gerar um resultado desastroso e deve ser cuidadosamente pensada e amplamente debatida com a sociedade.