A íntegra do depoimento do escritor Julián Fucks, depois de ameaças por um texto que escreveu:
“Caros, caras,
Por uma crônica, eu e minha família temos sofrido ameaças qualificadas de morte desde sábado, disparadas por perfis militaristas, e achei importante trazer à tona o que está acontecendo, também por uma questão de autodefesa.
No dia 27/8, publiquei uma crônica na minha coluna do UOL criticando a decisão oficial de tratar o coração de Dom Pedro I com as pompas de um chefe de estado, no próximo 7 de setembro. Usei a palavra “terrorista” em sentido figurado, literariamente evocando uma ação poética contra essa cerimônia, e afirmando desde a primeira linha que a proposta era contrária a toda violência, truculência, brutalidade, grosseria. Afirmei, confiando ingenuamente na boa interpretação do texto, que seria necessário um “terrorista” com total aversão a sangue e crueldade — um não-terrorista, portanto.
Por causa desse texto, tenho sofrido pesados ataques, agressões e ameaças, numa verdadeira perseguição por parte de bolsonaristas extremos. Trata-se de uma evidente campanha difamatória, com notícias falsas que têm tido enorme alcance. Omitem na difusão todas as partes em que eu esclarecia estar falando de uma ação pacífica, e tudo tem sido divulgado como se eu estivesse incitando um ato terrorista real contra o presidente no 7 de setembro – numa leitura completamente manipulada e desleal. Os ataques têm sido feitos por figuras graúdas desse campo político, como o próprio Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, o ex-ministro Mário Frias, a Jovem Pan e Augusto Nunes, entre muitos outros. Não poucas vezes estão pedindo diretamente a minha prisão, e tentando entrar com ações que me penalizem de diversas maneiras.
Está claro, para mim, que se trata de uma ação de distorção deliberada e inescrupulosa, para uso da situação com outras finalidades políticas. Desconsideram o teor e a natureza do texto, para forjar um crime que não há. Atacando a mim, querem atacar o UOL e a imprensa de maneira geral, assim como qualquer visão que destoe de sua posição ideológica. Em suposta defesa da liberdade, pedem a prisão de um cronista. Em suposta defesa da paz, me atacam com toda a violência”.