A festa glamourosa e cheia de amigos queridos no Copacabana Palace ficou para, quem sabe, uma outra hora. As chuvas que atingiram o Rio das Pedras não podiam esperar!
Eu viajava ao exterior duas vezes por ano, tinha uma vida social bastante ativa, frequentava os melhores eventos do Rio. Claro que a rotina mudou completamente: abri mão de muitas coisas e não saio nem da cidade, desde que tomei posse como subprefeita. Trabalho sete dias por semana sem folgas, mas quer saber? É maravilhosa a sensação de poder fazer diferença na vida das pessoas que mais precisam, mesmo!
Sempre fiz caridade e campanhas de todos os tipos para ajudar pessoas carentes, mas nada se compara ao meu dia a dia atual. Aliás, acho que cada cidadão deveria saber o quanto existe de gente passando fome a dez minutos de distância de uma mansão. É real! A maioria dos que se intitulam formadores de opinião não fazem ideia das dificuldades enfrentadas na gestão de uma cidade! É trabalho que exige dedicação total, suor mesmo! É humanamente impossível curtir a vida como eu já curti e ser gestora.
Escolhi ser subprefeita, então abri mão da rotina mais leve e despreocupada. Às vezes é difícil falar das coisas boas que a pessoa faz, sem parecer soberba, mas a verdade é esta: eu vivia uma vida confortável, usava parte do meu dinheiro para a caridade, pois achava que era o mínimo a fazer. Mas estar à frente de um trabalho que tem como base melhorar uma cidade é bem desafiador e, ao mesmo tempo, apaixonante.
Em Jacarepaguá, tenho 800 mil pessoas que, de certa forma, dependem da minha ação, da minha fiscalização dos serviços públicos, da manutenção dos bairros, do ordenamento urbano. Atendo donos de grandes marcas comerciais no bairro, mas, a 5 minutos dali, estou vendo como dragar um canal sem que a máquina acabe derrubando as casinhas construídas em palafitas.
São contrastes que só sabe quem vive mesmo para isso e quem está na rua o tempo todo. Infelizmente, muitas pessoas ligadas à política nem chegam a viver isso. E falando em casinhas que não podem ser demolidas por ter pessoas morando, temos também o outro lado que assusta alguns governantes, como bater de frente com construções irregulares que têm milhões de reais envolvidos – realidade bem diferente das noites regadas a boa comida e música… Sim, sim, isso é muito bom! (risos). Algumas pessoas mais próximas dizem que eu sou doida (risos). Mas, gente…, paixão é assim, não é? Ou se mergulha de cabeça, ou é melhor nem fazer nada!
Eu sempre tive relacionamentos em todas as classes sociais, mas, como subprefeita, vejo o problema e preciso acompanhar, resolver! Devia ser pré-requisito para a vida pública, sabe?
Na última chuva que atingiu Rio das Pedras, por exemplo, passei mais de 20 horas lá, de galocha, ajudando moradores que perderam tudo, discutindo projetos com o prefeito e a Secretaria de Infraestrutura para a gente resolver a questão das enchentes. Para entender e opinar sobre drenagem, clima, obras, contratos, canalização de rio, é preciso estudar, e muito! Como eu ia sair direto para um casamento no Copacabana Palace? Não teria cabeça nem tempo para me arrumar como, aliás, eu adoro… ou adorava (risos), mas aqui a questão é viver para resolver a vida do outro, e faço isso com prazer.
Na grande maioria das vezes, não tem como assistir ao sofrimento de uma pessoa de bem e simplesmente sair do local, virar a página e curtir “adoidado”! Não rola! Sem demagogia, não tem como! Até acho que, no meio político, errado está quem consegue virar essa “chavinha” tão rápido. Se eu ocupo um cargo público, acredito que o problema do outro tenha que ser tratado como se fosse meu. E faço isso!
Abri mão, sim, de uma rotina muito mais tranquila, de boas horas de sono. Abri mão das roupas de grife; aliás, o que mais uso atualmente é o colete do trabalho e calça jeans, bem básica e prática para a atual rotina. Algumas amigas me dizem que não sabem como eu não enjoo do colete. Mas é tão prático, e têm dias que nem dá tempo de tirar. Mas ele fica até bonito e charmoso, vai? Uso uma oversized porque faz meu estilo!
Este trabalho aqui é sacerdócio, mas estou aqui, trabalhando felizona para fazer o bem e deixar este lugar melhor para a população, sem abrir mão dos meus princípios nem dos meus valores. Isso, sim, é inegociável!
Talita Galhardo é subprefeita de Jacarepaguá. Tem currículo dentro da política, como assessora na Alerj e na Câmara dos Deputados.