Quando me lembro da minha versão mais jovem, também me lembro daquele preconceito quase que natural que ligava a moda à idade das mulheres; mal podia imaginar meu traje aos 50 anos. Será que mudaria por completo e eu me tornaria uma cópia da minha avó Maria? Ou praticamente um retrato da Rainha Elizabeth? Me perguntava, ainda, se meu eu do futuro ainda poderia usar camiseta podrinha, shorts e Havaianas, escutando as músicas do Supertramp e do Fleetwood Mac, que eu tanto amava. Parecia tudo tão distante e complicado, afinal, quando eu tinha 20 e poucos anos, a imagem social sobre uma mulher madura era distorcida e pouco valorizada.
Os anos foram passando, e aquela ideia infantil foi se tornando absurda pra mim. Cheguei aos 40 cheia de energia, surfando, viajando o mundo, com muita vontade de viver e completamente solar, usando minhas pulseiras de macramê, camisetas tie-dye, bandanas na cabeça e minhas amadas Havaianas, com a certeza de que minha vida estava só começando. Foi nessa época que decidi mudar meus rumos, primeiro em relação à nova carreira como designer de joias; depois fazendo a transição para um novo país, Portugal.
No entanto, quando cheguei aos 50, foi que ficou claro pra mim que aquela ideia minha sobre mulheres de meia-idade décadas atrás ainda reside na mente não apenas dos jovens como também de pessoas contemporâneas a mim. Afinal, ainda hoje, no século XXI, espantam-se com a vitalidade de uma mulher de 50, 60, ou 70. “Nossa, já tem essa idade? Mas você está ótima!” Claro que estamos ótimas e é para estar, afinal, ainda temos muito a viver, temos muito para curtir, com filhos criados e prontas para correr o mundo e aproveitar pra valer.
Minha referência de mulheres maduras, hoje, é de pessoas com vitalidade, energia dançam, nadam, cantam e se divertem, mesmo após os 80, e acredito que o segredo para a longevidade está exatamente na liberdade que conquistamos no mundo moderno. Não podem existir obstáculos que definam os caminhos que temos a percorrer.
O tempo não pode mais ser visto como inimigo, mas sim como aliado. Definir pessoas como “velhas”, ou dizer que “não podem mais isso ou aquilo”, interfere não só na autoestima como também na saúde física e mental. E podar nossa plena capacidade de pensar, agir, sonhar, criar e conjugar infinitos verbos não é apenas insensível, é cruel.
É preciso combater o etarismo e enfrentar esse sistema que só enxerga os jovens como referência. Envelhecer não pode ser xingamento ou visto como algo pejorativo. Ver o sinal do tempo no espelho é motivo para nos orgulharmos das experiências que vivemos. Afinal, o fato principal que nos define como consumidores e seres sociais é o reflexo do nosso espírito, é a nossa vontade de fazer acontecer, independentemente da certidão de nascimento.
E é por isso que acredito que a moda é fundamental como manifesto para mostrar ao mundo que somos e podemos tudo. Exatamente por isso, decidi ir além do meu comportamento pessoal. Convidei duas mulheres que admiro muito e que também já têm mais de 50 anos, como eu, para fazer um ensaio com as minhas peças, mostrando nosso joie de vivre — uma manifestação mesmo para que a indústria da moda mude sua visão sobre nosso modo de ser. Eu, por exemplo, todos os dias, acordo cedo para fazer minhas atividades físicas e depois começo minha rotina no atelier. A Patrícia Garboni palestra sobre empoderamento feminino e é criadora do podcast “Cinquentei, e agora?”. E a Anne Brightman é empresária do mercado imobiliário. Ou seja, se você nos descrevesse para alguém há uns 10 anos, certamente não associariam a mulheres 50+.
Tem uma frase de Coco Chanel que diz que “você pode ser bonita aos trinta, charmosa aos quarenta e irresistível para o resto da vida”. E embora pareça um clichê em tempos de luta contra o etarismo, a frase faz total sentido. Nessa fase, temos maior compreensão de quem somos, de nossa capacidade e nosso valor. Esteticamente falando, sabemos o que nos cai bem, o que, como dizem, nos favorece e um bom gosto apuradíssimo. Então, nada mais sensato que nos amarmos nessa idade.
Mônica Rosenzweig é joalheira carioca, há cinco anos vive em Lisboa, com ateliê em Cascais. Sua última coleção é inspirada nas mulheres 50+ e contra o etarismo (preconceito de idade), partindo da frase de Coco Chanel: “Você pode ser bela aos 30, charmosa aos 40 e irresistível o resto da vida”. Mônica é especializada em Desenho de Produto pelo Instituto Gemológico da América e tem paixão pelas pedras brasileiras, como esmeralda, opala negra e ametista. www. monicarosenzweig.com ou @monicarosenzweig.