Se alguém chegasse à Travessa de Ipanema, nessa quarta (20/07), chamando pelo sobrenome Gomide, metade das cabeças virariam. Foi noite de lançamento do livro “Um Diplomata no Cativeiro” (Bella Editora), da jornalista Ana Paula Alfano, sobre o drama vivido pelo cônsul Aloysio Dias Gomide (1929-2015), sequestrado no Uruguai pela guerrilha de esquerda Tupamara — da qual Pepe Mujica fazia parte —, em 1970, que ganhou as primeiras páginas de todos os jornais e revistas brasileiros.
À época, Maria Apparecida Gomide, sua mulher e mãe de seus sete filhos, tomou a frente nas negociações e montou uma campanha para ajudar a pagar o resgate, num tempo em que nem sonhava em existirem as populares vaquinhas online; para isso, contou com a popularidade dos programas de TV apresentados por Chacrinha e Flávio Cavalcanti. Diários escritos por Aloysio e Apparecida, até então inéditos, estão na publicação.
Aloysio, acusado de ser o representante da ditadura brasileira, foi mantido como prisioneiro por sete meses, e os Tupamaros exigiram um resgate de US$ 1 milhão (cerca de R$ 6 milhões). O cônsul foi liberto depois do resgate e negociação de US$ 250 mil (cerca de R$1,5 milhão).
No mesmo dia, o grupo sequestrou o agente da CIA Dan Mitrione, que não teve a mesma sorte do brasileiro: foi condenado por um tribunal revolucionário e morto. O duplo sequestro foi narrado no filme “Estado de Sítio”, do diretor grego Costa-Gavras, lançado em 1972. O primogênito de Aloysio, de mesmo nome do pai, seguiu também a carreira diplomática.