“Che nessun dorma” (do italiano, em tradução livre, “que ninguém durma”): manguezais são “pessoas” especiais. Logo que os vi pela primeira vez, em Angra dos Reis, em 1983, bateu uma atração irresistível, igual àquela que senti pela Lúcia naquele ano de 1980, no primeiro dia do Sagrado Coração de Maria. Foi paixão imediata, de olho no olho. A relação levou tempo para crescer, amadurecer e acontecer por aquelas sincronicidades que cada um dá o nome que preferir. Com os queridos manguezais, a coisa foi mais rápida, como assim exigia a situação.
Logo depois de conhecê-los no Ariró, quando ia pescar tainhas na maré- alta, com o amigo Bias, fui informado, no curso universitário, da importância ambiental, social e econômica dessa “turma”. São os famosos “mil e uma utilidades”, em que não há contraindicação em sua presença; afinal, funcionam como a primeira linha de defesa da costa. São as maternidades, creches, supermercados da zona costeira, além de atuarem como filtros da água e do ar. São considerados, atualmente, como uma das importantes ferramentas para o combate ao aquecimento global, pela sua capacidade extraordinária de sequestrar e acumular-imobilizar o temido carbono que insistimos em colocar na atmosfera.
No entanto, não há, geralmente, amor sem momentos de dúvidas, de correspondência do sentimento sentido. No caso dos manguezais, sofri na pele a consequência da ação concreta de protegê-los da ganância da especulação imobiliária dos anos 80/90, mas também achei o sentido de minha vida, isto é, sua proteção e recuperação.
De lá para cá, são 35 anos de amor recíproco, igual ao que sinto pela Lúcia, que reencontrei na Lagoa, junto dos manguezais que eu replantava e que, desde então, iluminaram minha vida nos melhores e piores momentos de minha existência terrena. O amor que sinto por ambos é inenarrável, é transcendental, é uma missão que pretendo cumprir em nome da vida. 26 de julho: Dia Internacional dos Manguezais, o microcosmo do universo, do meu universo, da vida, do amor e da biodiversidade. Afinal, como filho de italianos, não sei amar pela metade — amo profundamente, perdidamente, pelo que me apaixono: “Nessun dorma….All’alba vinceró!” (em tradução livre, “Sem dormir, eu vou ganhar ao amanhecer”).