Uma das tradições cultivadas pelos povos que habitavam a região outrora conhecida como Brasil (séculos XVI a XXI) era dedicar cada dia do ano a uma divindade, atividade ou categoria.
Assim, havia o Dia do Trabalho (destinado a ficar à toa em casa), Dia de Corpus Christi (usado para viajar com a família), Dia de Pagamento (quando se amortizava o saldo devedor no cheque especial) e o Dia dos Namorados (quando se ofertava uma camiseta ou perfume, demonstrando quão pouco se conhecia do gosto alheio).
Um paradoxo ainda inexplicado é que o Dia das Mães (pessoa fixa nessa função) era comemorado em data incerta — enquanto o Dia dos Namorados (cargo eternamente em rodizio) caía (assim como o 7 de Setembro) sempre no mesmo dia.
Após aprofundados estudos, cientistas levantam a hipótese de que a mobilidade do Dia das Mães devia ser para que coincidisse com um domingo, de modo que as flores e panelas pudessem ser compradas, de última hora, no sábado. Já a mobilidade do Dia dos Namorados seria uma desculpa para chegar apenas com um CD (artefato através do qual os antigos ouviam algo que chamavam de música, mas era funk, pop ou sertanejo) ou um convite para o motel (ambiente de mau gosto, sem janelas, onde namorados faziam, com pouca higiene e custo elevado, o que poderiam fazer com muito mais conforto, e de graça, em casa).
Por volta de 2022 / 2023, o Dia dos Namorados passou a incluir as namoradas, mudando de nome para Dia des Namorades. Deduz-se que, antes disso, apenas os namorados homens (machos tóxicos da relação) fossem homenageados nesse evento.
Por que, até então, só os espécimes do sexo masculino (um dos menos de 7 mil gêneros reconhecidos à época) ganhavam presentes? Teria havido, em algum momento, um Dia das Namoradas, que se perdeu no calendário? Estudiosos têm se debruçado sobre esse enigma, ainda sem chegar a nenhuma conclusão.
Sabe-se, entretanto, que os namorades eram pessoas (agrupadas, pelo menos oficialmente, em pares) que acreditavam ter encontrado sua cara metade (não cara metada ou cara metado, mostrando que a linguagem não mudou por decreto, como se pensava há até algum tempo).
Eram seres portadores de um distúrbio hormonal, caracterizado por descargas anormais de dopamina, feniletilamina e noradrenalina, que os deixavam sensíveis a estímulos eróticos (que tendiam a desaparecer após a formalização do relacionamento) e propensos a variações de humor (que tendiam a aumentar após a tal formalização, conhecida como “casamento”).
Entre a fase de “namoro” e a cerimônia de “casamento” (evento em que os envolvidos e suas famílias se fantasiavam com trajes extravagantes e comiam e bebiam compulsivamente), houve — possivelmente entre os séculos XVII e XX — o “noivado”. Similar ao purgatório (elemento de transição entre o céu e o inferno, na tradição cristã), o noivado servia para amenizar o baque entre fantasia e realidade.
Não há registro da existência de um Dia dos Noivos (ou Noives) ou um Dia dos Casados (ou Casades), o que demonstra que não haveria mais muito a comemorar.
Assim como Atlântida e a civilização maia, não se sabe exatamente como o Brasil acabou. A interpretação dos textos ali redigidos a partir das primeiras décadas do século XXI é muito complexa, devido a mudanças bruscas no idioma. Hieróglifos datados dessa época (também chamados de “emoticons”) dão conta de que namorades — por falta de grana ou de vocabulário — passaram a trocar t-shirts e jequitis, o que pode ter acelerado o colapso.