O que fazer quando não há possibilidade ou vontade mútua de dialogar para solucionar um conflito? Como agir quando não há consenso ou compreensão mútua? E quando o outro não demonstra nenhuma compaixão nem respeito por mais que abra seu coração? E em caso de má-fé ou atitudes hostis?
Ao longo dos últimos 12 anos, foram poucos relacionamentos que não consegui transformar através da prática dos conceitos da Comunicação Não Violenta (CNV). Quando digo transformar, significa chegar a uma convivência no mínimo respeitosa e, no melhor dos casos, harmoniosa.
Vi muitos milagres acontecerem em relacionamentos que pareciam condenados, tanto na minha vida pessoal e profissional, quanto na vida dos meus alunos e clientes. Pais e filhos brigados, chefes e subordinados em conflito permanente, casais separados ou em processo de separação. Já tive o imenso prazer de ajudar um casal que estava à beira da separação a se reconciliar, ao ponto de renovarem os votos de casamento poucos meses depois de terem quase assinado o divórcio.
Nesse mesmo período, aprendi também que nem sempre é possível chegar a um consenso, obter respeito mútuo, compreensão, empatia ou harmonia, por mais que estejamos pondo em prática os ensinamentos do Marshall Rosenberg, o pai da Comunicação Não Violenta (CNV). Por vezes, temos que concordar e aceitar que discordamos.
Em situações extremas, a ruptura, o afastamento e/ou o “contato zero” podem ser a única solução para preservar a integridade física e mental. É importante ter ciência de que existem pessoas desprovidas de empatia. Por exemplo, indivíduos com transtornos de personalidade narcisista, histriônica e antissocial (psicopatas e sociopatas), que possuem, inclusive, características antagônicas. Isso significa que têm uma “predisposição à animosidade, à arrogância e à falta de compaixão”, segundo a psiquiatra forense Kátia Mecler, autora do livro “Psicopatas do Cotidiano”.
Em matéria publicada em 2019, na revista Super Interessante, Leandro Narloch e Alexandre Versignassi apontam que cerca de “Seis milhões de brasileiros são incapazes de sentir emoções… Isso significa que uma pessoa em 30 poderia ser diagnosticada como psicopata”. A maioria não chega a matar fisicamente, mas causa muito sofrimento nos seus relacionamentos, principalmente quando as pessoas não agem conforme as suas expectativas. Geram discórdia, desarmonia e desunião por onde passam — em famílias, organizações e grupos de amigos, procurando desestabilizar emocionalmente e dividir para reinar.
Por falta de conhecimento, muitas pessoas ficam sofrendo durante meses ou anos, tentando de tudo para melhorar uma relação, em vão, sem entender por que o outro nunca demonstra os mínimos sinais de compreensão e compaixão apesar de todas as tentativas.
Em determinadas situações, caso a outra parte não esteja disposta a dialogar ou se houver algum perigo iminente, a CNV sugere recorrer à força para preservar a integridade física e mental, a vida ou os direitos individuais; ou seja, um uso da força não com intenção de punir, mas de proteger(-se).
Praticar a Comunicação Não-Violenta (CNV) não significa ser passivo, sempre bonzinho e compreensivo, nunca elevar o tom de voz, aceitar o inaceitável ou manter-se em relacionamentos tóxicos e abusivos em nome da compaixão e da empatia. A CNV está a serviço da vida, antes de qualquer coisa!
As melhores defesas são:
— adquirir conhecimento sobre perfis e jogos psicológicos;
— adotar uma comunicação consciente, assertiva e respeitosa;
— fortalecer-se emocionalmente;
— não ter medo de se posicionar e impor limites (saber dizer não);
— respeitar-se e se amar;
— buscar apoio se necessário;
— ficar de olhos bem abertos e confiar na intuição. Uma pessoa desperta será dificilmente manipulável; pelo menos, não, por muito tempo.