Antes de conhecer a Comunicação Não Violenta (CNV), eu costumava engolir muitos sapos para evitar os conflitos a qualquer custo. Quando eu não conseguia evitá-los, eram tragicamente desgastantes.
Quantas vezes eu cometi erros fatais de comunicação que só pioravam as situações, porque eu não tinha consciência do impacto de certas palavras nos meus relacionamentos?
No livro “Comunicação Não Violenta”, o psicólogo americano Marshall Rosenberg traz, para a nossa consciência, as principais atitudes que estimulam e alimentam a violência e acabam piorando qualquer conflito.
Segundo ele, “certas formas de comunicação nos alienam de nosso estado natural de compaixão” em relação aos outros e a nós mesmos.
Vou falar aqui sobre a forma que mais me chamou atenção e fez muito sentido para mim quando comecei a estudar e praticar a CNV:
• Julgamentos moralizadores
Quando as pessoas não agem conforme os nossos valores, necessidades ou expectativas, o nosso reflexo, em modo automático, costuma ser julgar, criticar, rotular.
Por exemplo:
A) Se a pessoa está dormindo mais do que você acha que deveria, você pode acabar rotulando-a de “preguiçosa”. B) Se ela esqueceu de trancar a porta ao sair, pode chamá-la de “desatenta” ou “irresponsável”.
C) Se ela não faz uma determinada concessão, como ir ao cinema para ver um filme que você quer muito assistir, pode chamá-la de “egoísta”.
E assim vai…
Esses tipos de rótulo costumam ser recebidos como crítica por quem ouve e coloca o outro na defensiva, podendo até gerar reações agressivas. Á época, essa nova consciência foi um divisor de águas para mim.
O que fazer então, no lugar de expressar julgamentos moralizadores? Idealmente, recomendo começar a conversa com uma pergunta, de preferência aberta, com a intenção de compreender a atitude que nos incomodou ou ainda está nos incomodando.
No caso dos exemplos citados acima, poderíamos fazer as seguintes perguntas:
A) “O que o/a faz levantar depois das 10h quase todos os dias?”
B) “Vi que a porta ficou aberta depois que você saiu. Aconteceu alguma coisa?”
C) “Você sabe o quanto tenho vontade de assistir a esse filme com você no cinema. O que o/a impede de ir comigo?”
Mudar a nossa forma de agir para perguntar, ao invés de julgar, me parece ser a forma mais eficaz para evitar de ativar gatilhos no outro e assim, poupar todos de conflitos desnecessários e desgastantes. É o tipo de pequena mudança que faz toda a diferença na comunicação. A intenção deve ser conectar-se o com outro para iniciar um diálogo e tentar compreendê-lo antes de qualquer coisa.
Outra possibilidade, segundo a CNV, seria expressar quatro coisas desde que sinta que o outro esteja disposto a ouvi-lo/a:
1. Os fatos (o que você observou, viu ou ouviu).
2. Que sentimento essa observação disparou em você (o que você sentiu).
3. Que valor ou necessidade sua não foi satisfeita (o que você precisava que era importante para você naquele momento e naquela situação).
4. Uma pergunta ou um pedido claro em linguagem positiva (evitar o uso da palavra “não” em frases como “não faça isso ou não faça aquilo”).
Na prática, poderia ser assim:
A) “Percebi que você costuma levantar depois das 10h da manhã, quase todos os dias. Fico triste, pois gostaria de passar um tempo contigo antes de ir para o trabalho. Você poderia levantar mais cedo para a gente se ver um pouquinho de manhã?”
B) “Quando cheguei e vi a porta aberta depois que você saiu, fiquei chateado(a) porque pensei que qualquer um poderia ter entrado e roubado nossas coisas. Segurança é muito importante para mim. O que fez que você não trancou?”
C) “Fico muito triste quando você se recusa a ir ao cinema comigo, porque sua companhia é muito importante para mim. O que o/a impede de ir?”
Mais uma vez, a intenção deve ser compreender, em primeiro lugar. É muito comum que os julgamentos e as interpretações dos fatos sejam equivocados.
Para fazer esses pequenos ajustes na hora de nos comunicarmos, precisamos aprender a desacelerar e respirar para podermos pensar antes de falar e nos dispormos a ouvir atentamente.
A CNV oferece várias ferramentas práticas que facilitam a realização desses ajustes e estimula a fazer escolhas mais conscientes em termos de atitudes e de linguagem na hora de uma conversa difícil ou de um conflito.
Que tal experimentar, já, essas pequenas mudanças e seus efeitos positivos nos seus relacionamentos?
Boa semana e até breve!